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sexta-feira, 5 de março de 2010

O País de Deco


O futebolista Deco confessou a sua vontade de, logo que possível, regressar “ao seu país”. A notícia do “C.M.” (de 03-03-2010) explicava, aos que houvessem esquecido certo facto, que o país de Deco é o Brasil.
Que tem isto de relevante? Decerto pouco. Apenas me apeteceu recordar a circunstância de Deco ser internacional pela selecção portuguesa e de, em princípio, estar, em Junho próximo, a defender as lusas cores no Campeonato do Mundo da África do Sul.
Sou muito avesso a patrioteirismos, garanto. O que me incomoda na, já significativa, quantidade de naturalizados na selecção portuguesa tem menos a ver com Portugal do que com dois outros países que (também) amo e respeito: o país do Futebol e o país do Bom Senso. É a esses que ofende a vigarice de fingir que somos bons no jogo da bola à custa de brasileiros disfarçados de portugueses.
Imaginai o que seria se o Luxemburgo, esse parente pobre do futebol mundial, naturalizasse quem bem lhe apetecesse para, assim, se tornar numa potência…
Eu sei que o fenómeno não é só português. Mas vejo-o e avalio-o à luz da minha condição (aqui, agora). Dói-me se se trata da selecção de Portugal; faz-me pena e provoca-me o riso se se trata de outras.
Há já muito que defendo um critério razoável: que sejam seleccionáveis apenas os naturalizados cuja formação futebolística (entre os 14 e os 18 anos) haja sido feita no nosso país. Seriam, desse modo, dignos e legítimos produtos do futebol português. Luís Freitas Lobo, nas páginas do “Expresso”, já se aproximou desta ideia.
O problema, nesta questão dos naturalizados, é que a discussão anda envenenada por conjunturas clubísticas: nos tempos de Deco no Porto, os benfiquistas estavam contra e os portistas a favor do ingresso do “mágico” no onze das quinas; e algo semelhante sucedeu à roda do central/médio Pepe. Com Liedson, o argumentário dos apoiantes deste abrasileiramento roça a indigência: se há já precedentes, sustentam, qual é o problema?
Algumas bestas trouxeram ainda, para o debate, o fantasma da xenofobia e do racismo. A esses, coitados, nem lhes dedico uma linha ou um segundo de resposta.
Sei que, em Junho, vou torcer por Portugal. Mas também sei que “aquilo” não se trata bem de uma selecção nacional; é, digamos, um Clube mais de que também gosto, participando numa competição internacional erroneamente dita de países. (Excepção é, por exemplo, o Brasil que apenas utiliza cidadãos brasileiros no seu time-maravilha.)
Júlio Dinis, n”Os Fidalgos da Casa Mourisca”, refere um patético costume de certas famílias falidas da aristocracia: pedir de empréstimo, a famílias ricas, pratos, terrinas e talheres de prata, de modo a garantirem o luxo de um jantar elegante. Pois eu fico-me com o discurso da personagem Jorge, que sensatamente se recusa a pactuar com esse fingimento: pobres mas honrados.

Ribeira de Pena, já 05 de Março de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

4 comentários:

Paulo Pinto disse...

Absolutamente de acordo. O Brasil é um grande viveiro de talentos no futebol, e exporta-os às centenas para clubes de todo o mundo. A carreira de muitos jogadores sem oportunidades no seu país acaba por desenvolver-se num qualquer país distante. Naturalizar-se cidadão do país de acolhimento só por si não deveria dar direito a integrar a selecção nacional. As regras deveriam ser apertadas para impedir qualquer tentação de usar as naturalizações como estratégia para fabricar falsas selecções nacionais.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Justamente!
Abraço.

JJC

Alexandra Crespo disse...

Muito bem falado. Isto devia ser matéria a publicar nos jornais nacionais desportivos.
Beijinhos.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Obrigado pela tua visita.
Volta mais vezes. Beijinho.
JJC