Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 27 de junho de 2017

Calor mói, beleza dói



Lembras-te, meu amor, daquele calor
Na Festa do Senhor?
Entre turistas espanholas 
(Conchitas, Saritas, Lolas)
Havia duas quase nuas 
Pelas ruas.
Um polícia de poucas falas
Sem problemas de pudor
Disse: "Cuidado com as malas!"
E elas: "Dios mio, que calor!"
Ele sofria também só de olhá-las.


Viagem entre Guimarães e Ribeira de Pena, 26 de Junho de 2017.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.maioresdequarenta.com.]

Mortal idade


Amo tanto quem amar
Que a minha alma chora
Por quem eu amo não estar
Ou poder ir-se embora.

Por  isso me dói assim
Quer a morte acontecida
Quer só a ideia de fim
Para o amor ou a vida.

Guimarães, Hospital da Luz, 26 de Junho de 2017.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem- do filme Adeus, Pai, de Luís Filipe Rocha - foi colhida, com a devida vénia, em http://www.theskykid.com.]

ZONA DE PERECÍVEIS (93)


A Beleza, depois o Inferno, depois Nada

Eu tinha escrito uma crónica leve-levezinha, que falava da Primavera e do poder lenitivo das lembranças mais lindas. Faltava só dactilografá-la (ou, como agora se diz, digitá-la) e remetê-la ao nosso jornal. Mas sucedeu, entretanto, o Inferno. Notícias em tudo semelhantes às piores das guerras, ou aos piores dos atentados terroristas caíram sobre Portugal. Sobre nós.
Conheço razoavelmente a região por onde o Diabo em forma de fogo tem andado a matar. Trabalhei, há muitos anos, em Figueiró dos Vinhos, e lembro-me da beleza que, nas viagens de e para Coimbra, nos rodeava, daquele cenário (serpenteante) de árvores, montanhas, casinhas pitorescas aqui e ali.
Confirmou-se que a beleza pode ser perigosa. Aquela tão formosa proximidade das árvores, para os automobilistas que circulam no País profundo, era (é), afinal, uma ratoeira. A mesma, aliás, que há naquelas casas (ou povoações) vizinhas da floresta, sujeitas à destruição cúmplice de que qualquer incêndio filho-da-puta é capaz.
Estamos, felizmente, pouco habituados a este sofrimento hiperbólico: 63 mortos (talvez mais), quase uma centena de feridos, animais dizimados, casas e carros reduzidos a cinzas, muitos quilómetros de árvores devindas nada. Nos outros dias, a televisão, a rádio e os jornais atiram-nos para cima com um acidente rodoviário, um afogamento em praia não vigiada, um crime doméstico, uma facada traiçoeira durante um roubo – e, à força de repetida, a desgraça traz consigo um não sei quê de anestesia. Mas isto a que agora fomos sujeitos é indiscutivelmente maior, pior: a meados de Junho, a maiúscula Morte visitou Portugal, sem convite nem cerimónia. Deixou-nos este amaríssimo sabor da impotência mais triste, mais desconcertada, mais patética.
Deixo para quem sabe (e parece que há muitos) a discussão sobre o ordenamento florestal, a formação dos bombeiros, a articulação entre as organizações responsáveis pelo socorro às vítimas, os meios postos à disposição dos soldados da Paz, a educação ambiental das populações, etc. Por mim, não sou capaz senão de chorar, na forma singela de uma crónica de 2.128 caracteres. De me juntar aos que, na sua frágil condição de formiguinhas sobreviventes (por enquanto) ao Inferno, lamentam os mortos. E de, na medida das minhas possibilidades, ajudar os que mais directamente sofreram a violência daquele fim-de-semana, daquele fim-do-mundo. Com água, com leite, com dinheiro. E, vá lá, com palavras.

Vila Real, 19 de Junho de 2017.
Joaquim Jorge Carvalho
[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 22-06-2017. A imagem utilizada foi colhida, com a devida vénia, no site da TVI24.]

terça-feira, 20 de junho de 2017

ZONA DE PERECÍVEIS (92)



 
Apontamentos de viagem

 1. No primeiro Sábado de maio, a minha mãe foi abordada na igreja, ainda antes do início da missa, por um velhinho frágil, muito magro, quase transparente (ainda mais velho que ela própria). O senhor trazia consigo umas dezenas de papéis. E ele mesmo nos explicou que se tratava de orações por si copiadas à mão, numa elegante caligrafia como já não se usa. Levava os dias a passá-las para quartos de folhas A4 e, depois, distribuía-as por transeuntes. Deliberadamente fugia a fotocopiar as orações, por tal não ser – sustentava – “a mesma coisa". A oração tinha de passar primeiro pela sua mão, “para chegar aos outros já meio rezada”. Haverá nisto, creio eu, conteúdo para uma tese de doutoramento sobre caligrafia.

 2. Desde sempre, vejo as estações de comboios e os aeroportos como lugares muito belos e – sem contradição nenhuma – terrivelmente tristes. É nestes territórios de humanidade avulsa que sinto aquela absurda vontade de sofrer dita em verso, por Cesário Verde, a propósito do entardecer lisboeta. 
Em visita (benigna) ao Instituto português de Oncologia, no Porto, a acompanhar um familiar, eu voltei a sentir, há uns tempos, algo de semelhante. Já no regresso à vila onde resido, reflicto sobre a coincidência sensacionista: em que medida aqueles corredores são uma espécie de estação ferroviária ou de aerogare? 
Surpresa nenhuma. Creio que tudo, como sempre, tem que ver com a mortalidade. Frágeis, leves, voláteis, transitórios, indefesos, ali vejo seres, como eu, partindo ou vendo partir. Encontrando-se, desencontrando-se, despedindo-se.
Voltarei com o meu familiar ao I.P.O. daqui a um ano, segundo a agenda das consultas. Talvez aí nos reencontremos, queridos contemporâneos. Ou não. (Repito: talvez.) 
Talvez, sabei-o, é um delicado monumento linguístico à esperança, mas admite já a ominosa possibilidade da decepção. Uma ponte de cristal entre acreditar e resignarmo-nos. Entre sermos e termos de, um dia, deixar de ser. 
A rua da minha infância, quando havia vento, trazia os murmúrios de comboios indo e vindo. O nome oficial desta Estação é Coimbra B. A designação popular é Estação Velha (dita velha, notai, desde a meninice de quem agora, maduro, a recorda). E ocorre-me que essa é uma adequada designação da própria Vida: Estação Velha desde que nascemos. 

Ribeira de Pena, 13 de Junho de 2017. 
Joaquim Jorge Carvalho 
[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 15-05-2017. O enunciado é uma nova versão de dois textos já anteriormente publicados no Muito Mar.]

terça-feira, 13 de junho de 2017

Os passos em volta


Não tenho a certeza de que aconteceu o que a seguir vos relato como tendo acontecido. Talvez se tratasse simplesmente de um sonho. Talvez seja um livro qualquer, lido há muito, subitamente reclamando importância na minha memória. Talvez fosse a imagem de um filme vagamente acompanhado por meus olhos cansados, nessas madrugadas pastosas em que não conseguimos dormir e tão-pouco estamos acordados. Encontrei-me com Deus. Ele estava dentro de um Austin Mini, atrás do volante.
O Austin Mini deste relato era um carro que comprei em 1983, usado e em muito mau estado, necessitando de reparação urgente a nível de motor, de chapa e de pintura. A ideia era comprar peças, avulsamente, e ressuscitá-lo, mas aquele automóvel nunca mais voltaria a andar.
Deus tinha as mãos sobre o volante, como se guiasse. Não sei bem descrevê-Lo. Talvez o seu rosto fosse semelhante ao de Herberto Helder, pouco antes de o poeta morrer. Eu disse: “Meu Deus!”
E ele: “Conheceste-Me logo?”
Eu continuei o meu grito: “Meu Deus! Este era o Austin Mini que comprei em 1983, com o dinheiro que ganhei a trabalhar na Fábrica Estaco!”
Ele disse: “Lembro-me bem da Estaco. Foi pena ter falido. Quando lá trabalhaste, havia muitas encomendas e muito dinheiro a entrar. Até para Singapura exportavam…”
Tanta sapiência confirmou que Ele era Quem era.
“És Deus?”
Ele assentiu com um sorriso omnipresente. Recordando isto, creio ter reparado em certo pormenor zigomático que, visto de agora, lembra o esgar inteligente do jornalista Daniel Oliveira.
Entrei para o carro e perguntei-lhe: “Que estás aqui a fazer?”
Deus levou alguns segundos a responder-me. Fê-lo serenamente, num murmúrio que só à custa de muita concentração me tornou audível o catecismo: “Não estou bem aqui. Aliás, não estou apenas aqui. Estou em toda a parte. Nunca to disseram?”
“E por que me apareceste? Isto é, por que estás a falar comigo em particular?”
“Sinto que andas triste. Incomoda-me que andes triste. Quero que me fales dessa tristeza.”
Eu, na verdade, nem sabia que andava triste. Pelo menos, não sabia que andava mais triste do que o habitual. A circunstância de Ele o perceber era a prova de que era Deus. Ou Herberto Helder.
“Pois bem, eu digo-Te o que me faz triste.”
Falei-lhe sobretudo da velhice, das doenças, da mortalidade. Das pessoas cujo desaparecimento é uma ofensa, uma indignidade, uma dor que nos torna para sempre deficitários de mundo e de felicidade. Da azia (física e metafísica) do ter havido e do já não haver. Percebi que ele sabia que eu falava de meu Pai, do mestre João (meu sogro), do meu amigo José António Conceição, do meu cunhado José Manuel, de juvenilíssimos alunos e de mães ou pais de juvenilíssimos alunos. Julgo até ter visto (mas não garanto) uma lágrima (ou uma promessa de lágrima) escorrendo por seu rosto de estátua viva, enquanto fingia conduzir o meu Austin Mini sem conserto.
Disse-me, então: “É a vida. A vida das pessoas também é feita dessas feridas que levam tempo a sarar.”
Eu disse: “Algumas não saram.”
Ele repetiu o que eu dissera, e a sua voz era exactamente como a minha: “Algumas não saram.” (Talvez fosse eu próprio a repetir-me.)
Deu-me para ficar nervoso: “Mas és Tu, segundo se diz, Quem fez o mundo, a vida. Por que raio há morte? Por que raio decidiste que haveria morte?”
Era este o momento, penso eu agora, de Ele falar da vida eterna que há depois da experiência terrena. Do “Vale de lágrimas” que antecede o Céu livre da morte. Mas não. Suspirou, encolheu os ombros e saiu do carro: “Isto da morte foi um erro. Lamento-o, sabes?”
E desapareceu.
Se isto que vos conto foi verdade, ainda houve tempo para eu ficar, por uns minutos mais, naquele carro mínimo, que comprei sonhando com viagens fantásticas, tardes de praia, namoro ambulante.
Saí depois para a madrugada, já a rua começava a sua lida utilitária de vozearias e de passos. A minha tristeza (que sempre escondo genialmente, para me furtar à piedade e ao falatório de circunstância) permaneceu comigo. Levo-a para todo o lado, até para crónicas de jornal.
No Sábado, à noitinha, voltei a ver o “Eixo do Mal”, na Sic Notícias. Tive outra vez a impressão de que o Daniel Oliveira fala bem e é fisicamente parecido com Deus.

Vila Real, 11 de Junho de 2017.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.publico.pt.]

quinta-feira, 8 de junho de 2017

ZONA DE PERECÍVEIS (91)



Serviço de urgência

Passamos a vida a adiar. Às vezes, fazemos bem. Mas a universal mania de procrastinar é, em si mesma, perigosa. De um momento para o outro, já fechou a loja, o balcão, o restaurante. Num piscar de olhos, passou-se (d)o prazo. Em menos de um fósforo, ardeu-se-nos a vida.
Se, à luz do preâmbulo, julgavam que eu vinha para aqui zurzir na ideia de descanso, estais redondamente enganados. Eu sou capaz de trabalhar horas a fio, mas a minha maior vocação é o ócio. Não o vejo como perda de tempo nem como actividade desprovida de méritos: é, aliás, coisa que requer disponibilidade e jeito. O meu Pai ia pouco à praia e era incapaz de aí ficar mais do que breves minutos a olhar para o mar. Levava-nos e fugia, com ou sem pretextos (a minha Mãe desconfiava, quase sempre, de saias). Era, para mim, um mistério esta incapacidade do meu Pai: ele tinha consigo o rádio de pilhas, jornais, cerveja, filhos para jogar futebol, mas era-lhe insuportável a quietude de estar-simplesmente-ali, sem um objectivo (digamos assim) prático. Chegámos a sentir pena do patriarca, tão fora da nossa felicidade absoluta: ele não percebia que ali era o espaço da liberdade mais linda, da paz feita de Sol e de odor oceânico, das raparigas bonitas desfilando pelo areal, de pão com marmelada e livros, de mergulhos e cambalhotas, de imortalidade.
Regresso ao Presente. O fim-de-semana que passou era uma excelente oportunidade para eu ir à praia. Mentalmente, fizera o itinerário há uns dez dias, enquanto bebia uma cerveja preguiçosa no ocaso de certa tarde muito quente. “Apetece-me muito ir à praia”, disse-me eu sem mexer os lábios. “Concordo”, respondi-me, sem que outrem pudesse ouvir. Ficou combinado.
Entre os planos e a concretização dos planos, meteu-se a vida de permeio (como diria o beatle Lennon): luzes de casa para substituir, carro da Filha para levar à oficina, testes para classificar, consulta de dermatologia para a Mãe. No meio da azáfama burguesa, ainda havia espaço para espreitarmos a praia da Tocha? Havia. Enrolou-se-me, contudo, a famosa serpente da fadiga, espécie de pântano com braços, que simpaticamente nos vai afogando pés, pernas, tronco, vontade. “Hoje, já não vamos”, disse-me eu, no Domingo, sem mexer os lábios. “Também já não me apetece”, respondi-me, sem que outrem pudesse ouvir.
Tudo isto é demasiado prosaico, receio eu, para o inscrever em crónica de jornal decente. Mas, já no encerramento de Domingo, em vésperas do regresso à lida transmontana, aconteceu-me falar em família naquela ideia antiga de arrendarmos, talvez em Agosto, uma casa na Tocha, dividindo despesas e convivendo todos por uma semana ou duas. E de, ao entusiasmo espontâneo, sucederem algumas reticências, porque alguém se tinha comprometido já com casa no Algarve, porque alguém comprara já bilhetes para a Madeira, porque vinha família do estrangeiro na mesma altura, porque não se sabia o que podia acontecer entretanto (gente idosa &, doenças), etc. Então, eu disse, num bocejo resignado: “Não há problema. Se não for neste ano, vamos no próximo. Temos tempo.”
Ora, nesse instante, a minha querida Mãe, provavelmente a marimbar-se para a praia e a pensar em paisagens mais além, contrapôs: “Cada vez temos menos tempo.
De modo que é assim: adiar é coisa perigosa. Já vo-lo tinha dito?

Coimbra, 05 de Junho de 2017.
Joaquim Jorge Carvalho
[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 08-06-2017.]

sábado, 3 de junho de 2017

ZONA DE PERECÍVEIS (90)


Elogio da normalidade

Há umas décadas, por alturas da Páscoa, comprei um saquinho de bombons de origem francesa, que se caracterizavam, em especial, pelo imaginoso invólucro do chocolate – uns (assim chamados) papillottes, no verso dos quais aparecem axiomas, versos, provérbios. Retive um texto em particular, cuja autoria lamento não ser capaz, agora, de reproduzir (e cito, obviamente, de cor): “Enganam-se os medíocres que pensam ser possível disfarçar a sua mediocridade quando alcançam lugares elevados. Sucede o contrário: sob a luz da ribalta, os defeitos tornam-se mais notórios e ridículos.”
O conceito é-me muito caro e pertinente. E apetece acrescentar, em coerente contraponto, que no caso dos excelentes é provável que se potencie a percepção da sua honesta excelência.
Utilizei, há muitos anos, este raciocínio para troçar de Bush, o ex-presidente do Estados Unidos da América. Talvez me tenha precipitado, sinto-o agora; aquele papillote estava à espera de uma avantesma maior, de um putativo comandante-em-chefe ainda mais improvável. Falo-vos de Donald Trump, aquele saloio rico que está hoje à frente da maior potência do planeta. 
Já passou, mais ou menos, aquele primeiro choque da eleição de um boçal abastado, sem escrúpulos nem cultura, sem maneiras nem humanismo, sem vergonha na cara nem nos discursos. Já passou, mais ou menos, a estupefacção perante o facto de milhões de americanos o terem escolhido (incluindo-se nesta multidão as óbvias vítimas a haver). Por muito má que fosse a senhora Hillary, não era possível o que foi possível – eleger aquela inchada torre de nada.
Ao longo de quase meio ano, confirmámos a impreparação desta criança mimada e serôdia: a sua vacuidade, o seu patológico egocentrismo, os seus erros ortográficos no twitter, as suas falhas de conhecimento em Geografia, História, Administração Pública, Segurança, Política Ambiental. Vimo-lo, não há muito, pela Europa, passeando com a sua esposa-troféu, fazendo esgares autoritários, beicinhos infantes ou poses de esforçada concentração (acenando com a cabeça para os outros perceberem que ele percebia muito bem o que lhe diziam).
A sua linguagem afigura-se, às vezes, tão minimalista como a de um aluno do 1.º ano ou a de uma tia chique e oca: é tudo sensacional-espectacular-fantástico-maravilhoso-fixe, ou horrível-horroroso-horrífico-mau-mesmo-mau. É tudo a coisa melhor de sempre (ou do mundo), a maior de sempre (ou do mundo), a mais deliciosa de sempre (ou do mundo), mas pode também ser a coisa pior de sempre, a mais intragável de sempre, a mais odiosa de sempre. O mundo está, naquela cabeça cheia de ar, dividido entre bons e maus - estando consigo os bons e contra si os maus, naturalmente.
Entretanto, é capaz de despedir um director do FBI porque este não suspendeu investigações embaraçosas para a presidência, de vender armamento num valor de milhares de milhões de dólares à sinuosa Arábia Saudita, de revelar alegremente segredos militares à Rússia, de prometer a resolução rápida e não tão difícil como se diz do conflito israelo-palestiniano.
O que se salva disto é a liberdade que há – ainda – no país de Faulkner, Steinbeck e Hemingway, onde indivíduos e instituições não se demitem do seu dever de zelar pelo Estado de direito (agora sob ameaça, como se tem visto). A liberdade e o humor corrosivo de muitos homens e mulheres habituados a ser livres. Entre tantos, daqui celebro um gigante chamado Stephen Colbert, que apresenta o programa televisivo The Late Show, na CBS. Divirto-me tanto a ouvi-lo quanto decerto se incomoda o anafado big boss do nosso descontentamento. A última proposta de Colbert foi que os juízes federais aproveitassem o périplo presidencial pelo estrangeiro para aprovar finalmente o fecho indiscriminado das fronteiras, propostas por Trump, a quem quer entrar nos Estados Unidos.
Nunca como agora o mundo percebeu como Obama era um presidente decente. No mínimo, porque era um presidente preparado, competente, previsível. Numa palavra, normal.


Vila Real, 27 de Maio de 2017.
Joaquim Jorge Carvalho
[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 01-06-2017.]