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Número de Ondas

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Apresentação de PASSADO COMIGO EM CABECEIRAS DE BASTO (24-11-2023)




 Com apresentação do meu Colega e Amigo Guilherme Galvão, foi lançado, a 24 de Novembro de 2023, no Espaço Ilídio dos Santos (Mosteiro de Refojos), em Cabeceiras de Basto, o meu romance PASSADO COMIGO: HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO CASAL FERRÃO, com a chancela da Caleidoscópio / Oro. Esta publicação teve o apoio da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto.

O livro está venda nas melhores livrarias e fala de um tempo-espaço compreendido entre 1968 e 1977. Por exemplo, no dia da morte do avô, um miúdo de cinco anos vê o seu pai chorando como se fosse ele próprio um miúdo da idade do filho; por esse tempo, mais tarde, conhece um jogador da Académica de Coimbra com medo da Pide e de ir para a guerra; na escola, ama e teme igualmente a professora primária, que bate nos alunos mas também os ilumina de leituras e de conhecimentos; entretanto, tem e perde um cão, nunca mais visto senão em foto a preto & branco tirada contra a luz na Praia de Mira; acontece-lhe também cruzar-se com a Liberdade, em 1974, na pessoa do herói Salgueiro Maia, e chama daí em diante fascistas aos árbitros que prejudicam o seu clube; sonha com glória nos amores e no futebol, até perceber que é tudo muito provisório; depois, espanta-se e assusta-se com a ideia da morte rondando a rua e o bairro; etc.

Aí por 2019, este miúdo apareceu a Joaquim Jorge Carvalho e pediu-lhe que o ajudasse a recuperar o Bairro e o Tempo onde ficara certa infância e certa juventude iniciática.
O Autor tentou corresponder ao pedido.
Este romance é, na verdade, um rio correndo para a nascente.
O miúdo são todos os que não se esqueceram de ter sido (e de teimosamente serem ainda) miúdos com saudades de certa pureza não bem perdida. Literatura, portanto, em forma de nós.

O apresentador da obra, Professor Guilherme Galvão, enviou-me, a meu pedido, uma síntese da sua apresentação. Ei-la.


Passado Comigo: Histórias Maravilhosas do Casal Ferrão é um romance cujo tempo narrativo cobre nove anos (1968-1977), num bairro semiurbano, em transformação, no contexto da época, enquadrado pelas contingências da época: guerras, modas, tecnologias… As personagens são miúdos que vão crescendo em contexto familiar e vicinal e à medida que crescem transformam-se, como o próprio Bairro. 
Jota, um rapazinho de sete anos, é a personagem central e também o narrador. As suas aventuras com os amigos dão-nos a conhecer o ambiente do Bairro com as inter-relações sociais, as profissões, as formas e as ocasiões de convívio, os problemas e as perspetivas, os anseios, mas também a dinâmica solidária dos habitantes adultos, uma galeria de personagens emblemáticas, umas vezes tutelares, outras cómicas.
O livro está dividido em capítulos, constituindo cada um uma história que entrelaça com as outras, formando um corpo coeso, que constitui uma obra completa. É um romance de identidades e conhecimentos profundos do mundo coevo aos acontecimentos narrativos, relevando variados temas, motivos e recursos, que narra recordações de um tempo, num relato contra o apagar do tempo.
O autor historiografa os acontecimentos da época abrangida pelo romance, pondo em relevo a pedagogia social, nas regras dos jogos, na descrição de doenças, de cerimónias, de emoções, de medos, de viagens. Valoriza-se a família, como primeira instituição, mas também a escola, não só como elevador social, mas como responsável por reforçar a cultura, forjar amizades, descobrir alimento para o espírito, encontrar novos desafios, novos horizontes e novas esperanças.
Personagens infantis e adultas são heróis do dia-a-dia, vivendo num Bairro com uma ética e moral próprias, onde o aprendizado social é importante e em que a justiça de casa, da escola ou da rua é aplicada com frequência, à luz dos usos e costumes da época.
O autor utiliza um estilo fluído e uma escrita clara e simples. Há uma linguagem viva, cuja autenticidade advém de quem a usa e das situações criadas. Rapidamente se passa do nível informal ou corrente para a linguagem literária, com os variados recursos e técnicas estilísticas, para descrever ou pintar com palavras quadros realistas, mostrar estados de alma ou esclarecer.
O cómico está presente em vários episódios, facilitando o apego ao que se lê. Em contraponto os problemas sérios, sociais, vão sendo apresentados dentro das vivências familiares de vizinhança, consoante o devir diário. Referi-los já é uma denúncia, mas alguns são escalpelizados e criticados pelas personagens ou pelo narrador.
As interpelações ao leitor-narratário são muito frequentes, tornando-o cúmplice e intimo das expetativas do romance, enternecendo-o.
Em Passado Comigo, o Bairro é uma espécie de herói coletivo, ele próprio em mudança, em crescimento, pressionado pela população, que nele investe todas as perspetivas de futuro e de sonho. Adivinha-se uma envolvência global, enquadrada por caraterísticas morais, éticas, sentimentais, coevas ao período temporal abrangido. Estas caraterísticas prendem o leitor. Os mais velhos porque recordam e revêem-se nas vivências e nas emoções, douram as nossas memórias. Os mais jovens aprendem ou confirmam o que ouviram. Recomenda-se a leitura deste livro por ser um retrato bastante completo de uma época, nos aspetos históricos, etnográficos, sociológicos, culturais (incluindo as músicas e as modas) económicos e políticos, pondo em evidência as pessoas. É um livro de leitura agradável, divertida, cheia de ensinamentos e informações, nos quais toda a família se revê. É o elogio da aprendizagem em grupo, num tempo em que a brincadeira de rua com amigos, parceiros e até adversários se perdeu espaço.
Passado Comigo provoca emoções, faz-nos sonhar, remete-nos para momentos de felicidade. Afinal esta é uma das grandes pretensões do Ser Humano, e para a qual este livro contribui.

Cabeceiras de Basto., 29-11-2023.

Guilherme Galvão


APRESENTAÇÃO DO LIVRO PASSADO COMIGO EM RIBEIRA DE PENA, A 17-11-2023


Com apresentação do meu Colega e Amigo Paulo Pinto, foi lançado, a 17 de Novembro de 2023, no Museu da Escola, em Ribeira de Pena, o meu romance PASSADO COMIGO: HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO CASAL FERRÃO, com a chancela da Caleidoscópio / Oro. A publicação teve o apoio da Câmara Municipal de Ribeira de Pena- O livro está venda nas melhores livrarias e fala de um tempo-espaço compreendido entre 1968 e 1977. Por exemplo, no dia da morte do avô, um miúdo de cinco anos vê o seu pai chorando como se fosse ele próprio um miúdo da idade do filho; por esse tempo, mais tarde, conhece um jogador da Académica de Coimbra com medo da Pide e de ir para a guerra; na escola, ama e teme igualmente a professora primária, que bate nos alunos mas também os ilumina de leituras e de conhecimentos; entretanto, tem e perde um cão, nunca mais visto senão em foto a preto & branco tirada contra a luz na Praia de Mira; acontece-lhe também cruzar-se com a Liberdade, em 1974, na pessoa do herói Salgueiro Maia, e chama daí em diante fascistas aos árbitros que prejudicam o seu clube; sonha com glória nos amores e no futebol, até perceber que é tudo muito provisório; depois, espanta-se e assusta-se com a ideia da morte rondando a rua e o bairro; etc.
Aí por 2019, este miúdo apareceu a Joaquim Jorge Carvalho e pediu-lhe que o ajudasse a recuperar o Bairro e o Tempo onde ficara certa infância e certa juventude iniciática.
O Autor tentou corresponder ao pedido.
Este romance é, na verdade, um rio correndo para a nascente.
O miúdo são todos os que não se esqueceram de ter sido (e de teimosamente serem ainda) miúdos com saudades de certa pureza não bem perdida. Literatura, portanto, em forma de nós.

O apresentador da obra, Professor Paulo Pinto, enviou-me, a meu pedido, uma síntese da sua apresentação. Ei-la.

Escrever um livro é das coisas mais sublimes que há, uma das que todos deveríamos fazer a par com plantar uma árvore e ter um filho, disse o poeta cubano José Martí. Sinto-me honrado pelo convite do meu colega e amigo Joaquim Jorge Carvalho (JJC) para apresentar esta sua obra.
Passado Comigo é a cara do seu autor. Está lá praticamente tudo aquilo que são os seus amores e as suas inclinações: o futebol e os seus clubes do coração (o Sporting, o União de Coimbra…); os livros e a literatura, sobretudo a dos clássicos; o teatro; a poesia; o ensino; o mar; a amizade; a família como porto de abrigo; o fascínio pelo sexo feminino; a paixão pela liberdade e aversão às prepotências e injustiças; a admiração pela gente do povo resiliente e abnegada; os seus lugares de eleição e de coração: a Madeira, as terras de Basto, os areais entre Mira e a Figueira, e acima de tudo o seu berço e morada, a sua amada Coimbra.
É o retrato de uma infância e adolescência em que o sentido comunitário e de pertença é muito forte. No Casal Ferrão todos têm o seu lugar e sente-se a solidariedade e a proximidade entre gerações. É um espaço-tempo recordado com saudade, apesar da modéstia da vida material e da ditadura que ainda imperava até que o 25 de Abril irrompe trazendo consigo um infinito horizonte de possibilidades e de sonhos a cumprir. O livro tem um cunho genericamente autobiográfico que é assumido no posfácio, ainda que mitigado por algumas liberdades literárias a que o autor chama «verdade criativa».
Júlio Dinis, que o autor tanto admira, rever-se-ia nesta obra: na sensibilidade para com as coisas mais singelas e genuínas, no olhar que é mais empático do que analítico, na prosa despretensiosa que a todos nos convida a identificar-nos com o narrador e as suas aventuras e desventuras. O autor escreve com uma correção e uma elegância irrepreensíveis, mas prescinde de impressionar pela eloquência, pelos recursos de estilo ou pelo arrojo literário, apesar de nisso tudo ele ser mestre e artista como o tem provado em tantas obras já publicadas, da poesia ao romance, dos contos ao texto dramático. Com a humildade que o caracteriza, qualidade tão dinisiana também, JJC resiste a enfeitar as peripécias do seu passado de modo a engrandecer o papel ou os feitos do protagonista: trata-se de um rapaz comum entre gente comum, um rapaz com alguns talentos e bastantes sonhos, mas ainda assim apenas um rapaz entre os demais.
Os capítulos que se sucedem ao longo da obra são como pequenos contos que vão balizando o crescimento do protagonista e dos seus próximos. Divertimo-nos umas vezes, comovemo-nos outras, com os avanços e descobertas desse menino que se vai fazendo homem. E embora a narrativa se situe num tempo já recuado, entre os anos finais da ditadura e o pós-revolução dos cravos,
Passado Comigo – histórias maravilhosas do Casal Ferrão é um livro que apela e é acessível a leitores de todas as idades e com os mais variados perfis.
Cada leitor encontrará as suas passagens favoritas. Eu reparto as minhas preferências por diversos capítulos: por exemplo, aquele em que o «Jota» – o protagonista – confessa o furto de um exemplar de
As Pupilas do Senhor Reitor e expõe as consequências desse ato na sua vida posterior; ou aquele em que o nosso herói se depara com a cruel encruzilhada da juventude, optando por um sonho realizável e duradouro (as letras) em detrimento de outro que se revela inatingível (uma carreira futebolística), e em que uma sucessão de perdas anuncia o fim daquele mundo em que vivera. Ou ainda a deliciosa passagem, incluída no capítulo 43, em que o autor descreve a sua empolgante descoberta do teatro como metáfora da vida:
«
Desde o início, fui assaltado por um sentimento de absoluta felicidade, de deslumbramento e de gratidão. Vi-me disponível para a aceitação (na verdade, tácita) da ilusão do mundo e da vida em palco: sabia bem que tudo o que nos era dado ver - cenário, personagens, conflitos, diálogos - resultava de artifícios, de representação, mas nem por isso me parecia que a história fosse menos verdadeira. Não digo só verosímil, atenção, digo verdadeira. E havia aquele milagre extraordinário de, ao contrário do que sucedia com os filmes e as séries de televisão, tudo se passar ali, na nossa presença, na vizinhança das nossas respirações, dos nossos risos, das nossas lágrimas, do nosso espanto, do nosso medo, do nosso testemunho cúmplice.» (pág. 142)
Neste livro simultaneamente simples e belo, com o dom de encantar gerações presentes e futuras, JJC revela-se na sua autenticidade, trazendo-nos a candura dos seus verdes anos, nas suas paixões e nas suas fantasias, naquela camada juvenil que não desaparece mas se torna parte de cada um de nós. Para mim foi um privilégio ter participado no lançamento desta obra e ter podido partilhar com tantas pessoas estas breves reflexões. Desfrutemos!

                                                                                      Paulo Pinto


LANÇAMENTO DE PASSADO COMIGO EM COIMBRA (04-11-2023)

Com apresentação do enorme escritor (e Amigo) Daniel Abrunheiro, foi lançado, a 04 de Novembro de 2023, no Café Santa Cruz, o meu romance PASSADO COMIGO: HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO CASAL FERRÃO, com a chancela da Caleidoscópio / Oro. A sessão ficou ainda marcada por um extraordinário momento musical, a cargo do meu Amigo Carlos Massas.  A publicação teve o apoio à edição da Câmara Municipal de Coimbra (sob a forma de uma amável parceria com a editora).

O livro está à venda nas melhores livrarias e fala de um tempo-espaço compreendido entre 1968 e 1977. Por exemplo, no dia da morte do avô, um miúdo de cinco anos vê o seu pai chorando como se fosse ele próprio um miúdo da idade do filho; por esse tempo, mais tarde, conhece um jogador da Académica de Coimbra com medo da Pide e de ir para a guerra; na escola, ama e teme igualmente a professora primária, que bate nos alunos mas também os ilumina de leituras e de conhecimentos; entretanto, tem e perde um cão, nunca mais visto senão em foto a preto & branco tirada contra a luz na Praia de Mira; acontece-lhe também cruzar-se com a Liberdade, em 1974, na pessoa do herói Salgueiro Maia, e chama daí em diante fascistas aos árbitros que prejudicam o seu clube; sonha com glória nos amores e no futebol, até perceber que é tudo muito provisório; depois, espanta-se e assusta-se com a ideia da morte rondando a rua e o bairro; etc.
Aí por 2019, este miúdo apareceu a Joaquim Jorge Carvalho e pediu-lhe que o ajudasse a recuperar o Bairro e o Tempo onde ficara certa infância e certa juventude iniciática.
O Autor tentou corresponder ao pedido.
Este romance é, na verdade, um rio correndo para a nascente.
O miúdo são todos os que não se esqueceram de ter sido (e de teimosamente serem ainda) miúdos com saudades de certa pureza não bem perdida. Literatura, portanto, em forma de nós.

Coimbra, 27-12-2023.
Joaquim Jorge Carvalho





[Espero publicar, em breve, um resumo da magnífica apresentação feita pelo Daniel Abrunheiro.]



terça-feira, 5 de setembro de 2023

Clube Esperança

 




Vou saindo já do meu Verão
E custa-me que o Fim seja verdade –
Adeus, Madeira do meu coração!

(Mas no Domingo vou a Alvalade
Ver o Sporting-Famalicão:
Talvez a graça da felicidade
Regresse sob a forma do Leão!)

Machico, 25-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Fotos JJC & Família]




Restinho vital

 



Só um resto de água (um só restinho)
Para o resto da sede caminhante –
E um resto de dia é o bastante
Para o delicado resto do caminho.

Machico, 24-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho

[Foto MPC]

Poesia (revisões)


Deus-Poeta atira seixos
Ao mar.

As ondas e o senhor Tempo
Esculpem os seixos
Perfuram-lhe as entranhas
Escavam secretas grutas acústicas.

É da concavidade mágica das conchas
Que ressoa a voz primeira
Da criação –
Versos de Deus.

Machico, 21-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto JJC]




Da amável burguesia




O burguês vive as férias do Verão
Contente dessa sazonal folia
E finge acreditar na ilusão
De nunca se acabar tanta alegria.

Passou já no mercado, com amigos
E de lá trouxe mil amáveis cheiros
De maçãs, morangos, uvas, figos
Melões (portossantenses e estrangeiros).

Sorri por ser possível conservar
Aromas desses frutos já ausentes
Apenas por depois os relembrar –

E o mesmo sucede mansamente
Com quem ressuscita ao recordar
Antigos amores neoviventes.

Machico, 17-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto MPC)

 

 

 


Entardecer não eterno

 



Em viagem para o Sul
A ave crepuscular
Pousa leve sobe o mar
Leve repousa em azul.

Frágil e leve flutua
Vizinha de peixes lentos;
Bebe o ar de leves ventos
E voa para lá da lua.

A ave só existiu
Até deixar de se ver:
Leve chegou e partiu –

Quem a pudesse escrever
E dizer quanto sentiu
O perdido entardecer!

Machico, 11-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto JJC]

sábado, 2 de setembro de 2023

Maravilha made in Nós

 


A minha Filha faz anos. Eu e a MP sentimos um profundo orgulho nesta maravilha made in Nós. Admiramos a sua educação, a sua inteligência, a sua cultura, o seu sentido de ética (na amizade e no trabalho), a sua fidelidade e o seu amor à Família. Ainda por cima, é do Sporting!

Custa-nos que, fisicamente, não esteja sempre pertinho de nós e dificilmente aguentamos um dia sem um contacto seu. Ser Pai ou Mãe é um ofício para sempre, já se sabe, que implica permanentes cuidados, incessantes aflições, recorrentes angústias; mas o retorno é saber que a nossa “menina” existe e dá sentido à vida de todos nós – e que a sua Felicidade é parte essencial da nossa Felicidade.

Parabéns, Vanovska! We love you!

Coimbra, 02 de Setembro de 2023. 
Joaquim Jorge Carvalho (& MP)

terça-feira, 25 de abril de 2023

Houve uma coisa simplesmente bela (25 de Abril ao ritmo de Cesário Verde)





Naquela madrugada portuguesa
Houve uma coisa cheia de verdade
E que, sem inúteis ares de grandeza,
Em todo o caso trouxe a Liberdade.

Foi quando o firme Maia, mais que humano
Fez a vontade a um inteiro Povo
Apeando do poder Marcelo Caetano
E com ele o velho Estado Novo.

Depois, prosseguiu-se a construção
Do Dia, em contínuo amanhecer -
E houve alegrias, desvios, desilusão …

Mas ficou-nos essa imagem a nascer
Do Maia com um cravo em sua mão
À espera do Futuro por fazer!

Coimbra, 25-04-2023. 
Joaquim Jorge Carvalho

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Once upon a time

 


A memória: um rio correndo para a nascente.


Machico, 22 de Agosto de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho

[A foto evoca, para além da minha pessoa, as de meus irmãos Z.T. e M.F., aí por 1968 ou 1969. O nosso irmão
E. ainda não era nascido.]

sábado, 1 de abril de 2023

Mãe escrita





O menino encosta o rosto
Ao queixo da mãe
Ajeita-se-lhe no colo
Serenamente inquieto, seguro
Como uma ave no mínimo-máximo aconchego
Do ninho.
Há na placidez dos seus olhos infantes
Um involuntário alívio
E a certeza absoluta daquela eternidade.
A mãe cheira bem (cheira a mãe).
A mãe é conforto, doçura, abraço.
A mãe está ali santamente com o menino.
A mãe está ali para sempre.

E depois o menino é vítima do Tempo
(Como todos: o avô, o vizinho
o cão, a casa, a mãe, o menino)
E descobre esse Frio maiúsculo, o Fim.
O avô explicara, sobre a morte, que era parte
De existir
Mas o menino não compreendia.
O avô talvez tenha sorrido
Talvez tenha prometido explicar-lhe o Fim
Quando o menino crescesse.
O menino não foi capaz de crescer
Não foi capaz de crescer o suficiente
Para deixar de ser menino.

Por isso, apesar dos anos, dói-se
De não haver ali a Mãe
O colo, a doçura, o abrigo,
O cheiro a Mãe (que é
mais do que simplesmente flores
ou mar
ou morangos
misturando-se com o oxigénio diário
consubstanciando-se às horas,
o cheiro a eternidade e a abraço).
O menino descobre-se só
E não compreende esse Frio brutal
Esse lugar sem Mãe
Sem colo
Essa traição de não haver eternura
(Eternura é a palavra do impossível necessário
a palavra que nomeia a ternura eterna).


Uma Mãe traz um menino ao mundo
E é para o menino o mundo.
Não há mundo sem a Mãe.
Por isso o menino dá por si dizendo
“Mãe
Deixa que encoste o meu rosto
Ao teu queixo
Que me ajeite em teu colo
Serenamente inquieto, seguro
Como o pássaro no mínimo-máximo aconchego
Do ninho.

Cheiras bem, Mãe
(Cheiras a Mãe).
Olho-te nos olhos como se me visses
E sucede-me agora a certeza absoluta
Da eternidade.
Estás santamente aqui comigo.
Estás aqui para sempre,
Mãe,
Enquanto te escrevo."

Coimbra 12-03-2023 (revisto a 26-03-2023).
Joaquim Jorge Carvalho
[A foto remonta a, talvez, 1969. Estamos na praia de Mira, nossa morada no Mar da infância. A Mãe está de luto pela senhora sua Mãe, minha Avó Adília.]

sábado, 14 de janeiro de 2023

Mãe & Amigos

 


A morte de quem amamos é uma dor sem cura. Nada nos salva da falta que, para sempre, fica. Mas os Amigos podem ser - com palavras, gestos, presença – uma forma de refúgio, um regaço, um porto de abrigo. Fico-me com esta última metáfora (quase catacrética) – e ocorre-me que ela é usada com frequência para falar do papel das nossas Mães. De modo que, digamos, os Amigos são uma espécie de Mãe (fatalmente deficitária, frágil), e ajudam a evitar, em momentos oportunos, o afogamento do ânimo e da esperança. 
Despedi-me da minha Mãe, ontem. Quero, agora, agradecer a vossa presença, as vossas palavras, os vossos gestos, até os olhares silenciosos e cúmplices que generosamente me ofereceram, nesta curva em que a vida se me incompletou para sempre. Abraço, Amigos!


Coimbra, 14-01-2023.
Joaquim Jorge Carvalho

Maria Delfina da Silva Mateus (1940-2023)

 

Dou por esta via conhecimento aos meus Familiares e Amigos de que Maria Delfina da Silva Mateus (amadíssima Mãe do José António Carvalho, do Joaquim Jorge Carvalho, da Maria de Fátima Carvalho e do Emanuel Carvalho) faleceu hoje, dia 12-01-2023.
O seu corpo será velado, mais logo, na Igreja de S. José, e o seu funeral realizar-se-á amanhã, dia 13-01-2023, pelas 14 horas, rumo ao Cemitério da Conchada.
Ao longo da sua vida, a nossa santíssima Mãe semeou Amor pelo mundo e foi, em todas as circunstâncias, inclusive nos últimos anos de doença, uma verdadeira guerreira, motivo de inspiração para todos nós. 
Paz à sua alma!

Ribeira de Pena, 12-01-2023.
Joaquim Jorge Carvalho

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Trevas

 




Bélicas botas calcam, diligentes, 
As frágeis flores da terra indefesa;
O Sol manda dizer que está doente
E, em vez da Manhã, vem a Tristeza.


Ribeira de Pena, 04-01-2023.
Joaquim Jorge Carvalho

[A imagem foi colhida, com devida vénia, em pt.dreamstime.com.]