Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

domingo, 5 de maio de 2024

MÃEZINHA




Como todas as Mães, ó minha Mãe
A senhora é perfeita, como sabe:
Leio nos seus olhos todo o bem
Que há na breve vida que nos cabe.

Ainda hoje a trato por Mãezinha
Como se fosse sempre pequenino.
Sabe-me bem, contudo, a palavrinha
E sou eternamente um seu menino.

Lembro-me de a Mãe, durante a lida
Na casa encantada do passado
Cantar a dona Amália e de a vida
Ter cheiro a café e pão torrado.

Gritava: “Zé Tó, Quim, Fatinha, Nelo! -
Cuidado, que o mar está de mau humor!”
(Era em Mira, num tempo novo e belo
E a Mãe era a praia do amor.)

Soube, junto a si, dessa mudança
Consubstancial ao crescimento.
Isto é: que o tempo passa, o tempo avança
E deixa para trás cada momento.

Queria, ó mãezinha, que cantasse
A Amália que cantava noutra altura:
Que a sua viva voz nos transportasse
Ao passageiro tempo da Doçura!

Ribeira de Pena, 05 de Maio de 2019/
Coimbra. 05 de Maio de 2024. 

Joaquim Jorge Carvalho

[Este poema foi data de 2019 e foi actualizado hoje mesmo, 5 anos mais tarde. Na foto, vê-se a minha Mãe na Serra da Estrela, brincando com um floco de neve. Ali leio uma metáfora, mais ou menos instintiva, de a neve ser o Tempo escorrendo-lhe/escorrendo-nos por entre os dedos.]