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Número de Ondas

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Sobre os Poetas


Tive a sorte de ser (fugazmente) contemporâneo de Manuel António Pina, esse grande poeta português dos séculos XX e XXI.
Não havendo, a atrapalhar os olhares e os discursos, o consabido veneno da inveja e da mesquinhez, que melhores testemunhas da excelência de um artista que outros artistas? Ora, tomai: li, hoje, no JN, um pequenino, simples e maravilhoso texto de Álvaro Magalhães sobre o seu amigo Pina. E reproduzo-o agora, com a devida (e grata) vénia:
 
"[Manuel António Pina] Era talvez a pessoa mais inteligente que conheci, e também a mais sábia, a mais talentosa com as palavras de quem era verdadeiramente íntimo.
Ainda  choro a sua perda e avalio, de coração transido, a extensão do vazio que ficou, ao mesmo tempo que agradeço o privilégio de ele me ter existido."

Um poeta limpo a olhar para um grande poeta, voilà. É uma coisa (como direi?) terrivelmente bela!

Arco de Baúlhe, 26 de Abril de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Não voltaremos atrás


Ribeira de Pena, 24 de Abril de 2013, nove e meia da noite. Auditório Municipal não completamente cheio, mas muito bem preenchido de público. Últimos pormenores, últimas instruções sob a forma de  sussurros ou gritos. Uma dúzia de jovens atores já caracterizados. O Carlos Batista, o Marco Andrade, a MP e eu testando luzes, som, power point. A excitação habitual destas ocasiões. (A Luana confessa o grande nervosismo que sente. Digo-lhe que sem nervosismo não há teatro. "Quem não está nervoso não está em condições de actuar. É preciso responsabilidade. A responsabilidade implica nervosismo. Está tudo certo.")
O espectáculo chama-se "25 de Abril contado ao Futuro" e é dedicado a Salgueiro Maia e aos Capitães de Abril em geral. Compreende poesia, teatro, música, documentos fotográficos e excertos de filmes. No final do espectáculo, convida-se o público a cantar "Somos Livres", uma ingénua e linda canção sobre a liberdade. O último verso da composição é "Não voltaremos atrás". Os meus atores (o Bruno, a Luana, a Flávia, a Catarina, o João, o Gonçalo, a Eduarda, o André, a Rafaela, o Paulo, o Fred), no final da música, gritam em crescendo essa frase. A conclusão, em clímax ético-estético, é exactamente essa - a frase consubstancial ao gesto de erguer palavras de ordem (Paz, Pão, Habitação, Saúde, Educação, Justiça Social, Liberdade, Democracia, Igualdade, Solidariedade) e cravos vermelhos.
O meu 25 de Abril, isto é, o 25 de Abril como eu o vejo, foi há trinta e nove anos. E está sempre por fazer, por cumprir. O meu 25 de Abril é hoje. E é amanhã.
Se não nos esquecermos do essencial, os cravos de Abril estão, estarão sempre frescos. São, serão sempre frescos.

Ribeira de Pena, 25 de Abril de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, na página de Facebook do Carlos Manuel Batista, que não desiste de celebrar, em Ribeira de Pena, esta data, e que me desafiou a apresentar o espectáculo. Também lhe dediquei, naturalmente, este "25 de Abril contado ao Futuro".]

quinta-feira, 18 de abril de 2013

25 de Abril contado ao Futuro


Publico aqui no Muito Mar o texto utilizado para a divulgação do espectáculo “25 de Abril contado ao Futuro”, que será apresentado no dia 24 do corrente (e querido) mês.

Vai ter lugar no Auditório da Biblioteca Municipal de Ribeira de Pena, no dia 24 de Abril de 2013, pelas 21h30m, uma performance dramático-poética intitulada “25 de Abril Contado ao Futuro''.
Trata-se de um espectáculo que cruza pequenos trechos de representação e declamação de poesia com imagens e canções evocativas da revolução democrática que ocorreu em Abril de 1974. A encenação é da responsabilidade do professor Joaquim Jorge Carvalho e conta com a participação de uma dezena de alunos da Escola E.B. 2,3 / Secundária de Ribeira de Pena.
Com a realização deste evento, o município de Ribeira de Pena pretende celebrar uma data que significou (e significa), acima de tudo, a conquista da Liberdade e o início de uma grande modernização do nosso país. Independentemente das diferenças ideológicas e político-partidárias que existam na sociedade contemporânea, o 25 de Abril representa hoje, consensualmente, uma indiscutível e saudável viragem na História recente de Portugal que, com algum atraso em relação a outras nações europeias, se tornou, em 1974, um Estado democrático.
Convidam-se, desde já, todos os Ribeirapenenses [e Amigos em geral] a marcar presença neste espectáculo que é, afinal, um grato tributo aos que, no passado, lutaram pela Liberdade e que é também uma ousada afirmação de esperança. 
Porque, em boa verdade, o Futuro também se faz com memória e gratidão.
Contamos convosco!

Ribeira de Pena, 17 de Abril de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[O cartaz aqui publicado (com a devida vénia) é da autoria do ribeirapenense Carlos Manuel Batista, um importante elemento da organização desta actividade.]

Abraço & gratidão


Deus perdoa, o Tempo não. Sem me pedir licença, o calendário celebrou cinquenta anos do que sou. Piedosamente, amigos & familiares felicitaram-me pelo fenómeno, via telefone ou facebook. Aqui fica um agradecimento sincero, não obstante esta minha indignação face ao despotismo do Tempo que (já vos tinha dito?) não perdoa.
A bondade da vida, no matter what, tem decerto que ver convosco, ó queridos contemporâneos amáveis. Muito obrigado, pois!

Ribeira de Pena, 17 de Abril de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A foto é do ano 1986, século nunca passado.]

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Elogio do Dicionário


Eu gosto de dicionários.
Mais do que todos, gosto do Dicionário de Língua Portuguesa. Habituei-me, desde muito novo, a consultá-lo, a confiar no que ele me dissesse, a colher nele a sabedoria que normalmente só encontramos em pessoas muito velhinhas e muito inteligentes.
Bem sei, hoje há - na internet - o Google e outros motores de busca. Mas não é a mesma coisa. O meu Dicionário-livro tem um ritmo adequado às minhas dúvidas e à minha curiosidade. Não está dependente da electricidade, do alcance de rede, da meteorologia, de tarifário & saldo, da eventual existência de pirataria informática ou erros de informação. Bato à porta da sua sabedoria, entro nele com olhos, dedos, cérebro – e beneficio sempre da sua luz como uma planta do sol.
Encanta-me a possibilidade de conhecer o sentido de algumas palavras em que, leitura a leitura, vou tropeçando no meu quotidiano leitor. E também me acontece, por acaso, enquanto ando à procura do significado de certos vocábulos, descobrir novos termos, que depois utilizo gulosamente, adequadamente, orgulhosamente.
Por exemplo, gostei muito de saber que havia uma palavra para dizer alma grande (bondosa, generosa, amável): longanimidade. Ou, há muito mais tempo, que obsoleto quer dizer ultrapassado, fora de moda, inútil (e que o nome certo relacionado com esse adjectivo é obsolescência).
Comoveu-me a ideia de que tristeza já foi (e ainda é, se quisermos) tristura. Que beleza também se pode dizer pulcritude. E que há outros preciosos substantivos (nomes) terminados em ude: atitude, beatitude, similitude, plenitude, completude.
Desconhecer palavras é um pouco como andar perdido no universo da linguagem. O Dicionário é uma luz, uma saída segura e certa. Também é, de certo modo, uma espécie de oxigénio da comunicação: conhecemos mais palavras, respiramos melhor. Vamos mais longe, mais alto, mais fundo, porque temos fôlego para tal.
É muito bela a minha, nossa Língua Portuguesa. Digo bela, mas poderia igualmente dizer linda, ou formosa, ou melodiosa, ou até amada. O Dicionário oferece-me mil adjectivos para exprimir o meu amor e a minha admiração. (Mil adjectivos é uma hipérbole. Hipérbole é um recurso estilístico que consiste numa forma de exagero retórico. Sei isto porque, há muito tempo, consultei o Dicionário e aprendi.)
O Dicionário é meu Amigo com maiúscula. Amigo ínclito. Ínclito significa ilustre e celebrado. Se não acreditas, vai ao Dicionário.           

Arco de Baúlhe, 12 de Abril de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[Texto elaborado para a Biblioteca da Escola Básica de Arco de Baúlhe, no âmbito do trabalho de promoção da leitura.]

sexta-feira, 5 de abril de 2013

CIL (Conhecimento Implícito da Língua)


Navegar é meu destino,
Não vivo sem navegar.
Mar é, por mim, feminino:
Vejo-sinto-digo a mar.

Ribeira de Pena, 04 de Abril de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (amado mar de Machico) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.aguadepena.blogspot.com.]

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Café da periferia

A chuva vai lavando o planeta. Para cá do vidro, a condição humana espera.
Uma nesga de sol espreita do céu. Gotículas de ouro sucedem nas árvores fronteiras, escorrendo das folhas. O entardecer estende vagarosamente o seu manto.
- Que horas são? – pergunta a velha.
- São horas - respondeu o velho. - Temos de ir.
- Espera um bocadinho – pediu a velha. – Deixa que a chuva passe.
- A chuva não passa – disse o velho.
- Passa sim – garantiu a velha. – Tudo passa.

Coimbra, 31 de Março de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.cronicadeumamorlouco.wordpress.com.]