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domingo, 7 de março de 2010

Mundo Virtual


A notícia vem nos diários de 6 de Março de 2010: um casal esqueceu-se, durante horas, talvez dias, do filho recém-nascido. Entretidos a brincar na internet, num sofisticado jogo que imitava a vida real, olvidaram o dever de alimentar a cria. A cria, ao fim de um período longo, desistiu de esperar e morreu.
A ironia maior de tudo quanto se diz está no facto de o jogo alienador ter a ver com um bebé virtual que era preciso alimentar. Os adultos (?) desse não se esqueceram. Do outro, do verdadeiro, é que sim.
Há uns anos, lembro-me de se discutir, nos autocarros e Cafés de Coimbra, a invenção do “Tamagochi”, e de haver quem seriamente defendesse a utilidade do divertimento. Era preciso, ali também, alimentar um ser virtual, e essa necessidade – sustentava-se – ajudava a incutir hábitos de responsabilidade nas criancinhas, bem como a combater a solidão dos solitários.
Afinal, é a isso que jogam os grandes ditadores: às realidades virtuais, onde seres perfeitos constroem e asseguram um Futuro perfeito. Os pormenores da realidade (sofrimento de indivíduos, diferenças de pensamento, queixas, advérbio não) atrapalham a utopia e, sempre que possível, são eliminados, a bem ou a mal.
O problema é que a humanidade é feita, em primeiro lugar, de realidade.
E é por isso que o mundo virtual é, em boa verdade, desumano.

Ribeira de Pena, já 07 de Março de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[O recorte-supra foi colhido, com a devida vénia, no DN, edição de 06-03-2010.]

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