Bússola do Muito Mar

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sábado, 20 de março de 2010

A DEPRESSÃO DAS LARANJAS (5 - Parte III)


As Palavras (Parte III)

No dia seguinte, uma delegação do reino de Gordjia dirigiu-se a Myra, exigindo rápidas medidas para castigar o bando de Priapyo. A resposta veio rápida e lamentosa: os homens de Priapyo eram quase tão numerosos como os das tropas reais, e talvez mais armados que estes. Dois quintos do território de Myra pertenciam ao vilão e, embora pesaroso, o rei vizinho não tinha meios para satisfazer o pedido grodjiano.
Reuniu o conselho de ministros a pedido expresso do jovem Delfim, que voltara a muito gaguejar. Discutiu-se a verba necessária para uma guerra longa e dura. Dessa vez, o ministro das ciências e humanidades eximiu-se a propor fosse o que fosse; tão-pouco os colegas se atreveram a tal; o próprio rei, tão amigo do filho, ressentia a necessidade de um gasto colossal: muito fizera já o reino em matéria de despesas – gado, terras, mulheres, ouro, até um jovem secretário do ministério domar.
- Meu filho, senhores ministros, só vejo uma solução possível para o nosso problema. Em vez da força e do aparato, optemos pela astúcia, o talento, a imaginação.
Levantou-se na sala, sem ruído, uma enorme aragem interrogativa. O rei explicou:
- Há, na província distante de Tofzo, um velho mágico, que outrora serviu o meu falecido pai. Chama-se Hodju e há-de ter, se for vivo, noventa anos ou mais. Amanhã, Delfim e dez soldados partirão para Tofzo e aí procurarão o homem. Deverão persuadi-lo a que nos ajude; as suas inigualáveis artes farão por certo o resto.


Coimbra, já 20 de Março de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Trata-se do 3.º excerto do 5.º texto de “A Depressão das Laranjas” (Ribeira de Pena, Ed. Casa de Santa Marinha, 1999). O desenho-supra é de uma querida colega e amiga, a Rosário Coelho.]

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