Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 4 de março de 2010

BULLYING


Vem nos jornais. Um menino de 12 anos atirou-se ao rio Tua, cansado de levar pancada dos valentões da sua escola. Disse que estava farto e matou-se.
É, antes de mais, uma aparente história de ausências, esta. Ausência de humanidade nos agressores. Ausência de força (corpo e espírito) no agredido. Ausência, talvez, de atenção na família e nos profissionais da escola. Ausência, final, de uma inteira vida por cumprir.
A infância e a adolescência podem ser etapas muito estúpidas e muito cruéis. Uma revisitação do “Senhor das Moscas”, de William Golding, vale por mil ensaios científicos. É, aliás, um tempo em que muitas vítimas apenas desejam passar de “lingrinhas” a bandidos “bué-da-fixes”.
A história do menino de Mirandela tem o final mais trágico de todos. Bill Watterson, o autor de “Calvin & Hobbes”, vingou-se bem do bullying que, em criança, terá sofrido: pôs a ridículo, na sua b.d., os brutos e os medrosos. Pôde fazê-lo porque sobreviveu àquele tempo.
Entretanto, subsiste-me uma incomodíssima possibilidade: se calhar, a morte do menino de Mirandela é também culpa nossa.

Ribeira de Pena, já 04 de Março de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem-supra é, com a devida vénia, a da 1.ª página do "Correio da Manhã" (edição de 04-04-2010).]

4 comentários:

Paulo Pinto disse...

Quantos pequenos ou grandes dramas nos passam ao lado, por distracção ou por sermos incapazes de decifrar os seus sinais... Como adultos, temos a tendência de desvalorizar os problemas das crianças que não achemos objectivamente graves. Um miúdo assediado ou ameaçado por outros, assaltado por temores ou por complexos, frequentemente esconde o seu problema ou não o sabe revelar claramente; para nós, mesmo conhecendo-o, o problema parece relativo, transitório, de resolução mais ou menos fácil. Mas o desespero, a impotência, a sensação de não ter saída, pode levar a consequências extremas. A crueldade faz parte da natureza humana, em todas as idades, e nenhuma sociedade, por muito justa e próspera que seja, a consegue erradicar; se temos culpa, é a de tantas vezes usarmos a visão panorâmica e nos esquecermos de olhar os outros nos olhos.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

"Decifrar sinais", Paulo - eis o que me parece a expressão-chave. É, acho eu, das mais delicadas e difíceis, mas também mais necessárias, missões do educador (pai, mãe, professor).
Importante é também, de facto, que o jovem sinta que há sempre alguém disponível (e que há sempre "uma saída"), em caso de necessidade.
É um prazer "ouvir-te", Paulo. Abraço!

JJC

Unknown disse...

Na minha opinião, será o momento ideal para pais,encarregados de educação, escolas e também a sociedade reflectirem.

um abraço

arminda vaz

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Concordo com a ideia de reflectir(mos) em conjunto. Abraço.
JJC