Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sábado, 13 de março de 2010

A DEPRESSÃO DAS LARANJAS (27)


27. O Piano

Sentas-te à minha beira e tocas-me –
Exactos os dedos percorrem-me, certo
O peso e o jeito da carícia, sábia
A harmonia dos gestos sequentes.

Está o Mundo suspenso no durante
Da canção colhida no silêncio de mim;
E lê-se no teu olhar a pauta nova, a chuva
Sobre as laranjas à espera de ser.

Quando parares, fechar-me-ás, ternamente.
Interromperás os aplausos com um sorriso
Triste.
E interrogarás, já só, o meu silêncio regressado:
Porquê?

Responder-te-ei: Sou como vês –
É preciso que te sentes ao pé de mim,
Me toques com o peso, o jeito, o tempo
Certos.
É necessário que aqui estejas e me acordes

Para haver música.



Coimbra, já 13 de Março de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Trata-se do 27.º - e antepenúltimo- texto do volume “A Depressão das Laranjas” (Ribeira de Pena, Ed. Casa de Santa Marinha, 1999). A pintura-supra, “Ao Piano”, é de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) e foi colhida na Wikipédia.]

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