Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

domingo, 21 de março de 2010

A Minha Mão na Mão deste Senhor


Gosto de quem não tem medo de dizer a verdade.
A Igreja (e, em particular a Igreja portuguesa) nem sempre ousa afrontar os poderosos seculares com que, enquanto instituição, tem de conviver. A regra histórica talvez seja, até, a tácita cumplicidade com os venais governos de todos os tempos.
Por isso mesmo as excepções se tornam um reconfortante afago para a alma dos pessimistas.
Lembro-me, aquando da apressada invasão do Iraque, desse incómodo silêncio com que Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso receberam a reprovação papal. Um rato dos comentários televisivos, cínico e pressuroso, recordou logo certa máxima antiga que separa a autoridade de César da autoridade de Deus.
Agora, quando finalmente Manuel Alegre e outros sublinham o escândalo que constituem os “prémios” (?) dos gestores públicos (prémios que Suas Excelências se auto-atribuem sem remorso nem vergonha), leio com prazer a opinião do senhor padre Borga sobre a actual situação económica: “[O] que é injusto é que, mais uma vez, é o inocente que vai pagar pelo pecador. E há coisas que não entendo: se há um salário mínimo, também devia haver um salário máximo.”
Ah, leão!
Eu ponho a mão na mão do senhor Borga e vou com ele a esta Galileia (da justiça) que vale a pena.

Coimbra, já 21 de Março de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[O recorte-supra foi colhido, com a devida vénia, no CM, edição de 20-03-2010, p. 17.]

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

Existe (bastante) gente generosa na Igreja, como há cínicos e pedófilos também. O padre Borga é dos bons, e é por alguns como ele que a Igreja Católica continua a ter potencial de redenção. A ideia do salário máximo é utópica, claro, pelo menos num sistema capitalista. E como os sistemas alternativos ao capitalista são, eles próprios, utópicos...

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Como sempre, o teu comentário é um enunciado lúcido e cheio de razão. Quanto à ideia de utopia, que por definição é um "não lugar", parece-me que - no caso da Igreja como no caso da sociedade humana em geral- não nos podemos dar ao luxo de prescindir dela (da dita utopia). Quanto mais não seja, Paulo, como balizas morais...
Abraço!
JJC