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Número de Ondas

sábado, 20 de fevereiro de 2010

TLEBS


Vêm aí novos programas de Língua Portuguesa. Sei alguma coisa sobre o assunto e concordo com muito do que aí vem. A excepção é a TLEBS.
Eu não tenho medo da [nova] TLEBS (Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário). Julgo que nenhum professor a receia, ainda que a novidade obrigue a uma revisitação de termos e conceitos que não deixará de abalar o edifício da (nossa) formação académica e profissional.
Mas há, em mim e em muitos outros colegas, um iniludível desconforto: o de entender(mos) que esta inovação pouco ou nada contribui para a melhoria das competências linguísticas dos nossos alunos.
A nova terminologia e os conceitos científicos sobre os quais assenta são de natureza mais complexa do que os termos e os conceitos até há pouco em vigor. A ideia de que os nossos alunos aprenderão facilmente “esta” gramática é algo ingénua, mas não digo que não possa – com articulação de esforços docentes e discentes – concretizar-se.
Contudo, a ideia de que, aprendendo “esta” gramática, os nossos jovens melhorarão as suas competências, essa, está (muito) por provar.
Desconfio de que, ainda antes de os doutos especialistas da língua se reunirem para decidir programas e práticas, há certas conclusões pré-agendadas: o que se vem fazendo está, de modo geral, errado; o que aí vem, sob a égide das doutas orientações, é a Magnífica Solução.
Lendo as novidades apresentadas pela (nova) terminologia, pergunto: o que aí vem é mesmo melhor? Tenho, desculpai, muitas dúvidas.
Julgo, antes de mais, que a gramática deveria - como aliás acontece com os sinais de trânsito - situar-nos e orientar-nos, contribuindo para a segurança, sucesso e beleza da viagem (de cada viagem).
Já tereis visto, como eu, lugares onde a informação em matéria de semiótica rodoviária é tão complexa e excessiva que, em lugar de orientar, confunde e é motivo de riso. Receio que casos semelhantes ocorram, doravante, no realista universo das nossas aulas.
Deixai-me desabafar: a TLEBS, vista deste lugar muito terreno onde me encontro, é mais um contributo no sentido de afastar os alunos da disciplina de Língua Portuguesa (Entretanto, farei o que é a minha obrigação: estudar bem a TLEBS para a ensinar, depois, da melhor forma que for capaz…)

Coimbra, 19 de Fevereiro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

4 comentários:

Nelson disse...

Viva!
Concordo plenamente e subscrevo a opinião do meu douto colega e amigo.
Abraço
Nelson

Joaquim Jorge Carvalho disse...

"Les beaux esprits se rencontrent", como disse Voltaire (salvo erro, em 1760).
Viva a Gente, beaux esprits à nossa própria medida!
Abraço.
JJC

Paulo Pinto disse...

Também duvido das supostas virtudes da TLEBS, até porque me parece que há (como diria alguém...) vulnerabilidades na sua lógica. Para nós, professores, a transição será complicada: alunos a ser ainda ensinados na gramática antiga, outros já com a TLEBS...; docentes a leccionar a TLEBS às 8.30, e a gramática antiga às 10 horas...

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Completamente de acordo, Paulo!
Há muito que defendo esta ideia talvez revolucionária: até ao final do 2.º ciclo, deveríamos investir sobretudo em ler e interpretar (e falar, e escrever) muito! Depois, no 3.º ciclo, alguma sintaxe. Só no ensino secundário se justificaria, a meu ver, um real investimento nos meandros mais complexos da morfossintaxe. Porque (aqui o busílis!) o que interessa é que os mnossos alunos falem, pensem e escrevam melhor. Ou não?
Abraço.
JJC