Bússola do Muito Mar

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A DEPRESSÃO DAS LARANJAS (1)


O Guardanapo

Era uma vez um poeta de periferia urbana que, em Outubro frio e ocioso, esboçou certo poema breve, à mesa esconsa de um Café parisiense. Não se entusiasmou com a obra feita (doze versos pouco originais, sem rima, apesar de uma metáfora interessante sobre o amor). Dobrou e abandonou, pois, o guardanapo onde tentara, pela enésima vez, a imortalidade – e saiu.
Dez minutos depois, Margo Boniek, donzela formosa e muito conhecida na cidade, bebeu um chá e comeu uma torrada, à mesa coincidente do parágrafo anterior.
Por não haver, a essa hora essencial de limpar os beiços, outro papel disponível, a donzela utilizou o guardanapo aparentemente intacto do poeta.
E foi assim que, pelas seis da tarde, o autor se cruzou com a sua metáfora bonita sobre o amor, visivelmente bailando sobre os lábios moranguinos da moça.

Joaquim Jorge Carvalho
Coimbra, 16 de Fevereiro de 2010.
[Trata-se do 1.º texto do volume “Depressão das Laranjas” (Ribeira de Pena, Ed. Casa de Santa Marinha, 1999).]

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