Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Presente


A pescada está já pronta a servir, na água ainda morna da fervura. Os ovos também. As batatas, não; em lume brando, resistem ainda à deveniente erosão que as há-de tornar mastigáveis.
No entretanto da espera, na cozinha branca da Avenida da Noruega, tenho tempo para uma visita mais ao senhor José das Dornas, naquela fase epilogal das Pupilas, quando se anuncia enfim a felicidade apetecida.
O tempo é feito de tempos, como o mar de rios e de arroios. Fundem-se, na minha pessoa, a aldeia dinisiana e o perfume doméstico de um jantar já tardio. A minha mulher e eu comeremos, enfim, numa espécie de silêncio bom, sem o ruído da televisão, no contexto preferido da vozearia de João Semana e do senhor Reitor, num país muito distante de injustiças e de azares.
Na minha cozinha, actualmente, mais do que pratos e panelas, há livros e avulsas folhas pelas prateleiras dos armários, pela mesa, pelo mármore vizinho do lava-louças. A nossa refeição é feita, pois, de batatas, peixe, ovos e literaturas (e, já me esquecia, de indispensável pão). Estamos, num recanto pequenino de Trás-os-Montes, juntos. Uma redonda tranquilidade, maior do que o frio, abençoa a casa.
Percebei-me: tenho, às vezes, os serões da província na minha cabeça e no meu coração.

Ribeira de Pena, 23 de Fevereiro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

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