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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval & Verão


O carnaval brasileiro é o maior do mundo. Maior significa, neste caso, quantidade (de investimentos, de participantes, de lucros, de riscos, de espectadores, etc.) e de qualidade (de cor, criatividade, alegria, festa, emoção). Mas há outros carnavais, um pouco por todo o mundo.
Sabe-se que há, na génese do carnaval brasileiro, tradições europeias antiquíssimas, de cariz obviamente profano. Há, pois, Portugal também na raiz do celebrado espavento do Rio, da Baía (e derivados). Mas, hoje, ninguém se atreve a pôr em causa a primazia da festa brasileira, espécie de bilhete de identidade de um povo genuinamente de bem com a vida, não obstante a dimensão da pobreza, injustiça e violência com que convive ao longo do ano. Não é de mais dizer-se que a alegria tem sotaque brasileiro.
No nosso país, tenho assistido, com irregular frequência, a arremedos do carnaval de além-atlântico verdadeiramente patéticos. Para além da circunstância, sempre vexatória, de a cópia ser, por natureza, inferior ao original, há este pormenor não despiciendo do clima. Vi, muitas vezes, corsos tiritando, tristemente, de frio; espectadores, num silêncio funéreo, bem agasalhados e de ar respeitoso, apreciando as carnes saltitantes de bailarinas (nacionais ou importadas), ao som de uma cidade maravilhosa de encantos mil, muito distante dos lugares portugueses.
Julgo que seria interessante pensar-se na possibilidade de deslocar, no calendário, a celebração do carnaval português para os (nossos) meses quentes: Julho, Agosto, mesmo Setembro. Chamassem-lhe, digamos, “Carnaval de Verão” ou coisa semelhante. Penso, aliás, que a alteração redundaria em maior afluência de público, maior alegria dos participantes e maiores dividendos para os organizadores.
Claro que a tradição é importante. Mas a tradição também se faz. Um ano, depois outro, depois outro, depois outro – e normalizar-se-ia, na percepção popular, esta forma portuguesa de carnaval. (Aliás, dizem-me que, na Figueira da Foz, vem sendo tentado algo semelhante.)
Se leitores conservadores se ofenderem com esta heresia sugerida, peço desculpa. Mas lembro que o faço no convencional período de carnaval. É suposto que me não levem a mal, não é?

Coimbra, 14 de Fevereiro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida no JN (com a devida gratidão e vénia).]

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

O que propões faz todo o sentido, mas de facto em Santa Cruz (Torres Vedras) já se faz há anos um corso carnavalesco em Agosto especialmente para os banhistas que enchem a localidade nessa época, e que não é mais do que uma repetição, com algumas ausências, do Carnaval de Torres do respectivo ano.
Mas realmente não podia estar mais de acordo... estou a passar estes dias num sítio onde o Carnaval tem tradições, mas só com grande sacrifício, enregelado até aos ossos, vi passar o cortejo. Ainda bem que era pequeno! As alunas do Arco que se atreveram a desfilar pela vila só com uns topzinhos e saiinhas com o vento gelado a açoitá-las devem estar agora a curar uma gripe... Realmente, assim o Carnaval perde a piada toda. Ou S. Pedro adere à festa, ou temos que ser nós a mudar as datas! Esperar pelo aquecimento global é capaz de demorar algum tempo...

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Torres Vedras, portanto, e Figueira da Foz são terras pioneiras, em Portugal, de uma nova forma de brincar, saudável e convenientemente mais acalorada. Ainda bem.

Abraço, Paulo!

JJC