
A Depressão das Laranjas
Às vezes, apesar do açúcar e do sol prováveis, sou uma laranja triste: é quando não estás; ou quando, estando, te vejo coberta da poeira dos outros e passas, distraída e indiferente, por mil gomos da minha solidão redonda.
Sabes? Uma laranja triste é um fruto muito estranho: em momentos de crise, viaja da própria casca ao íntimo caroço de si – e por aí reside até ao regresso de meteorologias mais amenas.
Coimbra, já 20 de Fevereiro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Trata-se do 6.º texto de “A Depressão das Laranjas” (Ribeira de Pena, Casa de Santa Marinha, 1999). O quadro que ilustra o texto, “Rapariga com brinco de pérola”, é de Vermeer (1632-1675).]
Nota-extra: O leitor (ou leitora) atento(a) terá notado que, neste blogue, se passa do 4.º texto de “A Depressão das Laranjas” directamente para o 6.º. Explique-se: o 5.º texto deste volume, intitulado “As Palavras” (um dos meus preferidos, aliás), é muito longo e poderia, neste território bolgosférico, tornar-se fastidioso. Prudentemente, opto – para já – por omiti-lo.
3 comentários:
Gostei mesmo muito. Espero, ansiosamente e apesar do tamanho, pela "depressão" nº 5.
CG
É uma situação a (re)ver.
Grato,
JJC
só para já, então...
Enviar um comentário