Bússola do Muito Mar

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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Um homem ressabiado não é um homem duas vezes sábio


Ontem, o Sporting perdeu com o Benfica.
Decompondo a frase, digo: o Benfica ganhou; o Sporting perdeu.
São, nesta soturna época futebolística, duas normalidades numa.
Ora, a normalidade, assim feita, dói-me muito.
Televi o jogo no Dolce Vita, em Vila Real, encostado ao cúmplice sofrimento da Maria da Paz.
No final, olhei à volta e vi os outros (ou a maioria dos outros) cheios de uma alegria estranha e ofensiva. Era a alegria dos outros, coincidente com o meu profundo abatimento.
Os outros, se os olharmos bem com os nossos próprios olhos, são uma coisa estranha. (Se eu fosse bom dramaturgo, percebê-los-ia melhor.)
A alegria deles é como se a nossa tristeza fosse a dobrar.
Nem sequer me consola a ideia de que, noutros tempos, as coisas sucederam ao contrário.
Falta-me, ai de mim, aquilo a que inexactamente chamam desportivismo. Desde o primeiro golo vermelho que chamei “brutamontes” ao Luisão, “melancia ingrata” ao Carlos Martins, “caceteiro” ao Xavi Garcia, “tartaruga” ao Cardoso, “pedregulho com olhos” ao Jorge Jesus. Do árbitro nem é bom falar: por ele, cheguei a inventar palavrões, com recurso a estrangeirismos, aglutinações e justaposições.
Resumindo: é muito difícil suportar fleumaticamente a alegria dos outros. É uma alegria estrangeira. É uma alegria apenas explicável à luz dos outros e do mundo dos outros. É uma alegria de um mundo outro.
O mundo dos outros é, nestas ocasiões, uma inconveniência e uma ameaça. Mais: é um anti-mundo que colide com o nosso.
O nosso mundo, visto pelos nossos olhos, é o mundo como devia ser. O céu.
“L’enfer”, como ensinou Flaubert, “c’est les autres”.

PS: Passada a azia, lembro-me do Daniel Abrunheiro, do Fernando Abrunheiro, do Massas, do Jorge Magalhães, do Dinis, do Albino, do Amadeu, do Avelino, do João, do Vilela, do Vasques, do Álvaro, do Alberto Ornelas, da Alexandra Crespo, etc. Gente como eu, com direito à sua alegria. Gente não tão outra como, à flor da pele, parecia. Digo-lhes, por isso, parabéns, como se houvesse regressado ao que inexactamente se chama desportivismo.


Ribeira de Pena, já 14 de Abril de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

4 comentários:

Paulo Pinto disse...

O Calimero, não sendo sportinguista, às vezes parece... O Sporting pouco tinha a perder, não é vergonhoso para ninguém perder contra este Benfica. O Porto e o Braga, esses sim, foram os grandes derrotados nesse jogo na Luz. Não vi o jogo, mas sabes bem por quem torceria.
Resta a consolação de ficarem milhões de Portugueses contentes. Também eles não ganhavam nada de jeito há vários anos...

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Caro Amigo,
é tudo verdade quanto dizes.

Já agora: onde o Calimero ficava - mesmo - bem era na bandeira portuguesa, em vez das quinas! E eu, que ando a calimerar há tanto tempo, sei bem do que estou a falar...

Abraço!

JJC

Daniel Abrunheiro disse...

Vi parte da bola perto do Tó Conceição, que é casado com uma rapariga muito bonita e muito filha de boa família. E lá ganhei dois-zero.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Pois lá foi.

Ficas com 2 e eu com zero (...). Ahahah!

Abraço.

QJ