Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Marca



Na Banda d’Além, a tinta
Há uma marca que celebra
O dia em que as águas subiram
Até à altura perigosa de um corpo.

Duvida-se de relatos desse dilúvio antigo
E sorri-se a prováveis excessos de contadores locais.
Mas depois alguém conduz o céptico à Banda d’Além
E dá-lhe a ver a marca testemunhal do fenómeno.

É esse o vosso problema com o que sou:
Precisais da diluviana inocência de acreditar
Que eu já fui puro
Como um peixe atlântico.

Aos sorrisos incrédulos e às espadas acusadoras das línguas
Eu aponto para dentro de mim próprio
Para a marca
Da Banda d’Além de mim
(que não se vê).


Coimbra, 02 de Abril de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Trata-se do poema “Marca”, do meu livro “Inquietação de Barcos” (Ribeira de Pena, Ed. Fórum Metanóia, 2006). A Banda d’Além é um zona próxima da praia de Machico, na Madeira; a marca referida existe mesmo, gravada na parede da capela dos Milagres, assinalando a altura a que subiram as águas, no início do século XX. A 1.ª foto é do autor, com talvez 3 anos, ao lado do irmão mais velho, o Zé-Tó, com talvez 5 anos. A 2.ª é a mesma fotografia, entretanto acrescentada de 40 anos.]

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