Bússola do Muito Mar

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sexta-feira, 30 de abril de 2010

A Cidade do Amor


O amor é uma cidade fundada há muitos séculos. Andamos nele como quem se perde numa metrópole conhecida só de nome, de grandes avenidas e de esconsas ruelas, aturdidos os olhos e doridos os passos.
É um lugar inseguro e, como todas as capitais, muitas vezes violento.
Pelo chão do amor, é frequente tropeçarmos em indeterminados restos de coisas determinadas, em ruídos antes música, em cascas de tremoços antes tremoços, em gases de escape antes viagens, em muco buco-nasal antes respiração.
Mas também pode dar-se o caso de, subitamente, o dia se invadir de um cheiro a maresia, a flores, a café recente, a perfume estrangeiro, a pele de mulher fresca.
A cidade do amor tem muitos edifícios antigos, desses que aparecem nos livros de História e nos roteiros do turismo, e também casas muitíssimo modernas, dessas que aparecem nas revistas de arquitectura e de cabeleireiros. Passado e futuro são vizinhos e contemporâneos nesta urbe complexa. Mas é presente: andamos no amor como se todos os tempos caminhassem para agora.
O mais angustiante na cidade do amor é que as suas ruas e ruelas são longas, cansativas e raramente a direito. Ao fim de muitos passos não deixamos de estar sempre a meio da nossa viagem. E não se pode parar nunca, não se pode parar, não se pode.
Dizem-me haver por perto, algures, um lugar de ruas serenas e quietas, que levam os viajantes, sem dificuldade, à casa certa de cada um. Não há ali porcaria, mau cheiro, violência, incerteza, ruído.
Conheço esse lugar e confirmo: é verdade o que dizem. Mas esse lugar fica em outra cidade.


Coimbra, já 30 de Abril de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem-supra recorda a telenovela primeira de todas, Gabriela Cravo e Canela" (baseada no romance homónimo de Jorge Amado), e foi colhida - com a devida vénia - em http://www.soniabragaonline.com.]

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma excelente e inusitada comparação.

Anabela

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Obrigado, Amiga!
JJC