domingo, 18 de abril de 2010
Poema (popular) da mulher triste
Ah, pois pegaste, dirás, na mulher
E nos filhos e pois vestimo-nos
Como quem vai de casamento
Ou de baptizado e cerimónia, etc.
Pois fomos a um restaurante
E pois comemos bifes arroz salada
E flan e ananás e molotov
(cada sobremesa a três euros, carago)
E pois os miúdos encheram-se de nódoas
(Tiveste que lhes pregar uns tabefes)
Antes dos cafés e da gorjeta.
Pois regressámos à tardinha
Depois de uma soneca e do relato
Do futebol (eu fiz tricot).
À noite, quiseste sexo, ah pois quiseste
(embora eu preferisse ir ao cinema)
E pois, dirás, foi um dia bem passado.
Ribeira de Pena, já 18 de Abril de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Uma 1.ª versão deste texto faz parte do volume “Embalo de Ella” (Prémio Cesário Verde/Revelação – 1995). A obra-supra é de Andy Warhol e foi colhida na wikipédia.]
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2 comentários:
Nem mais. Portugal não é só isto, mas também é isto. Já foi mais, mas ainda é. A interjeição «carago» coloca o quadro no local mais certo: é um domingo tripeiro, ou em todo o caso daquela área geográfica (onde nasci e, digamos, fui criado) onde se diz «Fernãodo» e «Já boue». Mas esta mulher com aspirações culturais, que quer ir ao cinema no domingo à noite, o que está ela ali a fazer?
Boa pergunta.
(Atenção: "carago" também se usa em Coimbra, e muito...)
Abraço.
JJC
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