Entre as sete e as oito da noite, fiz novamente a "volta grande" e a "volta pequena" do Choupal. Cinquenta e cinco minutos bem corridos, com uma frescura que me surpreendeu e entusiasmou.
Recebi, entretanto, recados da minha Escola: um documento para eu enviar, alguns esclarecimentos - e, embrulhadas na circunstância, algumas notícias trágicas: a iminente fatalidade de recomeçar o trabalho, de deixar Coimbra, de retomar a rotina sobrevivente que me vai pagando a luz, a água, a comida, o gasóleo, a casa. "Dá-te por satisfeito", avisam-me, avisadamente, alguns familiares. (E eu, egoísta, não me dou por satusfeito...)
Vi homens, à Praça da República, cortando a folhagem das árvores, preparando a cidade para o Outono. No chão, sujeitas à tímida baforada do vento, as decepadas folhas tremiam - como se chorassem por serem dispensadas. Acumulavam-se no chão, sem seventia, desesperadas como funcionários públicos às mãos do FMI.
Eu senti pena das folhas.
Senti também pena dos troncos, condenados à nudez sazonal que lhes há-de parecer para sempre.
E senti pena de mim, pedaço metonímico de raça humana que, estrebuchando embora, não consegue parar o cabrão do Tempo!
Coimbra, 21 de Agosto de 2013.
Joaquim Jorge Crvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.claudioantunesboucinha.wordpress.com.]
2 comentários:
"...
como se chorassem por serem dispensadas. Acumulavam-se no chão, sem serventia, desesperadas como funcionários públicos às mãos do FMI.
..."
Um texto com a sensibilidade das folhas caídas...
Gostei tanto!
Obrigado por aparecer por este (cúmplice) Mar. Volte sempre. Beijo & gratidão! JJC
PS: Relendo o textinho, dei com duas "gralhas" - e corrigi-as.
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