Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

domingo, 4 de agosto de 2013

Apografia 2: Utilidade das árvores maiores

Dezanove horas e vinte minutos. Sigo, correndo, da ponte do Açude, até à zona do hipódromo, Choupal adentro, regressando pela margem esquerda, sempre à beira-rio. Faço alongamentos e abdominais, na companhia de teimosas moscas que salivam pelo meu suor ou, talvez, pelo gel que me escorre generosamente das patilhas. Chego ao carro pelas vinte horas e dez minutos. Cinquenta minutos, não mais, de exercício. Sinto, por essa altura, um estranho cansaço que me apanha pernas, braços e pescoço.
O meu olhar corrente deteve-se sobretudo na vegetação choupalina, de dimensões evidentemente diversas e contíguas entre si: canas, arbustos, árvores grandes. Resisto à hierarquização da importância. Arbustos, canas, árvores mais pequenas, árvores maiores – tudo faz parte do todo.
Mas, confesso eu, dá-me muito jeito que existam, na paisagem da minha corrida, árvores que se destaquem, que me ajudem a perceber onde estou, até onde posso ir. É assim, julgo, também com a espécie humana. Não há problema em sermos canas, arbustos, árvores pequeninas, se formos dignos dessa condição, isto é, se essa for mesmo a máxima condição a que podemos – naturalmente, legitimamente -  aspirar. (Por mim, sempre gostei do aconchego da áurea mediocritas.)
Não obstante, necessitamos, em todas as épocas, de gente que, como as árvores grandes, nos expliquem a diferença entre a preguiça residente e as possibilidades de viagem por nós acima. Marcas geodésicas, direi, entre o chão e o céu.

Coimbra, 03 de Agosto de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho

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