Vinte horas e dois minutos. Saio da rua de S. Miguel, passo pelo bairro do Brinca, a Estação Velha, a avenida Fernão de Magalhães, o largo da Portagem, a ponte de Santa Clara, o Estádio Municipal. Uma pausa para alongamentos, olhos sobranceiros ao Mondego (muito cheio, hoje). Retomo a corrida, à beira-rio e só paro, por minutos na rua Manuel Almeida e Sousa, para rápida visita à Mãe. Já em casa, entro no chuveiro mais de uma hora depois de iniciado o exercício.
Durante os alongamentos, pensei no fascismo que, muitas vezes, há nessa autoridade do Passado e do Futuro. Isto é, no respeitinho que temos pela tradição e pelos vindouros. Não descreio da necessidade (afectiva e civilizacional) de ter em conta a história o mundo, ou de pensar nas consequências dos nossos actos para os habitantes da Terra no próximo século. Mas tendo a estrebuchar um pouco quando sinto que, em nome do ocorrido ou do a ocorrer, me empurram para uma espécie de miséria ou culpa, sem demais alternativas. Mas o Presente também tem direitos. Também tem de ter direitos. Será isto um – digamos – egoísmo contemporâneo?
O que é o Tempo, afinal, se o segmentarmos convencionalmente? Vejamos…
O Passado são os pais dos meus avós. Aliás: os avós de todos os pretéritos avós.
O Futuro são os netos dos nossos netos. Aliás: os netos de todos os nossos netos.
O Presente é o que resta: nós, os nossos avós, os nossos pais, os nossos filhos, os nossos netos.
De modo que: o Presente não é tudo, claro, mas eu exijo mais respeitinho pelo Presente que é quase tudo quanto tenho.
PS: Ortega Y Gasset, para explicar (lapidarmente) a importância do contexto histórico, inventou a expressão “o homem e a sua circunstância”. Julgo que esta expressão, se se visse ao espelho, veria algo como “o Tempo e a sua (muita ou pouca) humanidade”.
Coimbra, 04 de Agosto (parabéns, Nelo!), de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
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