A minha vida, hoje, passou pela bela praia da
Tocha. Céu limpo, mar infinito, uma leve brisa temperando os excessos de sol.
Tempo para ver quase duas centenas de gaivotas (a contabilidade é, garanto,
razoavelmente segura) viajando, balético-vertiginosas, de norte para o centro
da praia, à cata de peixe recém-chegado nas redes.
Regressei a Coimbra por volta das seis da tarde. Às
sete e vinte comecei o meu exercício diário: corrida da rua dr. Manuel Almeida
e Sousa até à ponte do açude, entrada no percurso do Choupal, continuação até
ao hipódromo, regresso pela zona do canil municipal, pausa para alongamentos
(observando, de viés, centenas de formigas em filas operárias, num conhecido
turno estival), e nova corrida até ao ponto inicial. Quase uma hora de honesto
suor.
Ideia para conto: um dia de trabalho de laboriosas
formigas. Uma carreirinha segue no sentido de um gafanhoto acabado de morrer.
Outra carreirinha regressa, carregando víveres, ao formigueiro. A fila que se
dirige àquele gafanhoto devindo comida parece subitamente desorientada: algures
no caminho, certa formiga estacou, saiu do alinhamento, estabelecendo grande
confusão e, minutos depois, o caos. Uma formiga chefe descobre a causadora da
interrupção da rotina e da eficiência. Pergunta-lhe:
- Camarada número 1504, por que diabo de razão
saíste da fila?
A interpelada responde, sem tirar os olhos do
horizonte:
- Ali ao fundo… veja… há uma espécie de bola de luz
caindo sobre o rio…
- E achas isso mais importante do que o nosso
trabalho?
- Não sei. Mas é bonito.
A formiga chefe irrita-se:
- Camarada 1504, não sabes que é rigorosamente
proibido sair da fila?
A formiga prevaricadora retorque, suspirando, como
se chorasse:
- Se eu não saísse da fila, não veria bem isto que
lhe mostrei…
Coimbra, 16 de Agosto de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.molelos.no.sapo.pt.]
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