Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Elogio da normalidade


Os alunos esvoaçam rua abaixo, puxando a tarde para a casa da noite, e toda a vila do Arco se embala, dolente, na normalidade que, feitas as contas, não é assim tão má. Apesar do frio, ouço à minha volta o concerto diário da alegria juvenil: gargalhadas como flores sonoras, gritos como espuma às cores, diminutivos como taxonomias de homens ainda pássaros.
Hoje não deixo que a cabeça se me parta a chorar as tristezas que há em o tempo estar passando (e de os meninos e meninas estarem devindo homens e mulheres, velhos e velhas, morte). Não deixo.
Durante esta tarde caindo, só me interessa a imortalidade que há por minutos na paisagem onde moro. Para mais, levo comigo pão quentinho para o jantar. Tenho, contra o irredutível Inverno, uma querida lareira. Contra o indisfarçável cansaço, a cama amável e o sono justo. Contra a imparável passagem das horas, este estar plenamente vivendo as horas.
Rua abaixo, deixo que me envolva ainda o concerto da normalidade alegre:
"O Manuel gosta da Cristina!"
"O Porto perdeu!"
"Telefona-lhe tu que eu não tenho saldo!"
"Amanhã levas!"

Arco de Baúlhe, 18h15m do dia 31 de Janeiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.umtoqueempoesis.blogspot.com.]

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