quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Sobre a Palavra e sobre o Mal
Uma senhora com quem diariamente convivo no meu pacato local de trabalho dizia-me, ontem, a meio de certa conversa-café:
- O que importa é a palavra, senhor professor. A palavra vale mais que o dinheiro.
Estou muito de acordo com esta senhora. Até já escrevi um volume de poesia exactamente chamado "A Palavra Vale" e, no meu quotidiano pobre-rico (pobre em euros, rico em vidas), faço por não me desviar desse princípio.
Mas a verdade é que este modo de ver o mundo vai ficando obsoleto. Os corações humanos vão-se degradando em contacto com a modernidade fétida. Quando sobreviver prevalece sobre viver, ai, as pessoas tornam-se feras e matam (no sentido figurado e literal do verbo assassino).
Valeria a pena a muitos reler um livro fundamental que Primo Levi (um judeu sobrevivente do holocausto) escreveu. Intitula-se Se Isto é um Homem e nele encontramos uma perturbadora, mas realista, visão do Mal. O Mal consubstanciado em pequenos gestos, em pequenas histórias. O Mal como prática geral e aceite. O Mal ao alcance de todos - e todos ao alcance do Mal.
A palavra humana vale, sim, Dona Rosa, mas só se se der o caso de a humanidade não se demitir de ser humanidade.
Arco de Baúlhe, 25 de Janeiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (foto de Primo Levi) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.mauravoltarelli.wordpress.com.]
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