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Número de Ondas

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

História interminável


A mehor parte de ser professor é estar com os alunos, sobretudo na sala de aulas. Não sei se toda a gente concorda com isto, nem sequer sei se toda a gente percebe isto, mas tenho a certeza de que qualquer professor digno desse nome está comigo, n'isto.
No presente ano lectivo, no intervalo de muitas, tantas desilusões, tenho beneficiado de pequenos raios de sol que, interpretados com boa vontade, tornam gratificante o ofício multímodo da docência. Aqui vos falo de um.
Durante duas semanas, o meu 7.º C leu e analisou o conto O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Repartimos a leitura em voz alta por todos, incluindo o professor. Discutimos a história, os lugares da história (aliás, das histórias), os sentimentos e as emoções das personagens, o modo de narrar, o estilo da autora, até a própria ideia da viagem como maneira de entender o exercício da leitura.
Para o final da aula de quarta-feira estava guardada uma formosa surpresa: acabada a leitura da obra por um de nós, sobreveio um silêncio de nem bem dois segundos - e, depois, uma salva de palmas espontânea, alegre, demorada.
Um aluno resumiu tudo numa frase pouco cuidada (que na ocasião não pus em causa, confesso): "Muito fixe, professor!"
Falei-lhes, depois, mal disfarçando a felicidade que me visitara o coração, do milagre da leitura, que nos leva a lugares, a pessoas, a tempos tempos tão remotos e tão exóticos. E do facto de, a cada leitura (mesmo se o livro for o mesmo), inaugurarmos novas viagens, novos percursos, novos olhares.
Então, uma querida aluna disse que, nesse caso, uma história nunca chega verdadeiramente ao fim.
Sorri, satisfeito como um cavaleiro que regressa, depois de muitas aventuras, à sua casa. A casa da Narrativa. A casa da Literatura.
- Pois não. Nunca chega. Nunca acaba.

Ribeira de Pena, 19 de Janeiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho

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