quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Malhas que a noite tece
Anoitece mansamente pelas seis da tarde.
Vejo a luz dissolvendo-se em noite, em nada.
Pouco a pouco, candeeiros públicos começam a funcionar e, nos lares que o olhar alcança, acendem-se outras luzes. Luzes, digo, daquelas adivinhadamente impregnadas do secreto aconchego que sempre haverá no âmago milenar das casas.
Tenho saudades de voltar para a minha casa de há trinta e cinco anos, no ocaso do dia, viajando de eléctrico ou de trolley, de autocarro (número 2 – Pedrulha).
A luz da cozinha trazia a Mãe à porta e havia a televisão ligada, o odor a sopa nova (talvez caldo verde), o barulho de crianças na velha ladeira entre a rua e o pátio.
Talvez a minha filha haja passado, também, por este país tranquilo e amável – e eu próprio tivesse sido para si parte do encanto que era ela chegar a casa.
Hoje em dia, eu e a MP estamos, as mais das vezes, incompletos. A VL saiu do berço e nós ficámos atordoados como decerto ficam as andorinhas em final de Verão. Que fazer aos olhos, às mãos, ao tempo?
A distância entre nós e os que amamos é um mar muito triste e, por vezes, corrosivo. (O telemóvel é, nesta contemporaneidade tão delicada, uma espécie de bóia que nos salva de dar em doidos!)
Anoitece mansamente pelas seis horas da tarde.
Cabeceiras de Basto, 10 de Janeiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.flickr.com.]
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