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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Eternidade é um planeta dentro do coração


Tenho sete anos e driblo, no campo de recreio da Escola do Casal Ferrão, mil colegas, uma árvore, o Tempo. A Dona Angélica vem à porta da sala do rés-do-chão e ordena-nos o regresso à aula. Voltamos ofegantes, com uma ou outra bata suja de erva ou de terra, os sapatos gloriosamente feridos de remates na bola ou no chão. Lá dentro há geografia, aritmética, ditados e histórias em língua portuguesa. O Jaime gosta da Manuela João, a Manuela João gosta de mim, eu gosto da Beatriz, a Beatriz tem olhos azuis e é a mehor amiga da Manuela João. À noite, dá um jogo do Sporting na rádio a contar para a Taça Uefa. Antes de adormecer, tenho de fazer uma cópia que começa assim: "Portugal é grande."
Na manhã seguinte, o dia começa com música radiofónica, cheiro a café com leite e a pão torrado, o meu pai cantando "Não venhas tarde", o cão atrapalhando a nossa pressa, a casa cheia da quotidiana azáfama que não se interromperá senão no sábado.
No próximo sábado vamos a Leiria ver o União de cá contra a União de lá. A tia de Leiria oferece-nos almoço e o tio Zé Melo já pediu dispensa do trabalho para nos acompanhar.
Tenho sete anos e, por esta altura, a eternidade existe. É um planeta meu.

Ribeira de Pena, 04 de Janeiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.forumcoimbra.com.]

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

Memórias como essas, de uma infância assim tão preenchida com actos e afectos, são a garantia de uma vida fecunda.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Meu muito cúmplice Amigo, assumamos que sim. Abraço! JJC