In memoriam C. P.
Se eu pudesse desligar este relógio da minha cabeça
E em vez da vertigem circular dos ponteiros houvesse
Uma praia com areia pessoas peixes búzios mar!
Se eu pudesse fugir desta prisão que é não ter asas
E sonhar com voos para longe de estar preso!
Se eu pudesse sair desta férrea tristeza sem sol
E acrescentar ao estar esperando alguma esperança!
Se os dias fossem menos pesados menos brutos!
Se eu pudesse demitir-me das cãs dos cães do caos
E andar pela vida como um turista pássaro
Fotocantando o mundo fotoamando a luz!
Se eu fosse o Alberto Caeiro da minha própria existência!
Se eu fosse livre antes da morte em vez da morte!
Se houvesse luz em vez de EDP!
Se as águas portuguesas se libertassem das Águas de Portugal!
Se houvesse um Estado de Bem que nos desse bem-estar!
Se um verso enfim inteiro me dissesse e voasse
Para fora do grandiloquente planeta da Vulgaridade!
Se o silêncio ou a música me abrigassem
Me dissessem Senta-te e Escuta!
Se algo algures diferente da vida mas não a morte
Me abrisse a porta e dissesse Entra!
Se uma coisa nova se me inaugurasse enfim
E a rua onde estou fosse para sempre
Rua para completamente estar rua para ser!
Se eu fosse Eu ao sereno sol de Mira ou de Machico!
Ribeira de Pena, 14 de Janeiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (vislumbre da Praia de Mira) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.flickr.com.]
2 comentários:
Exacto. Assim se diz.
Obrigado, Companheiro!
E abraço.
JJC
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