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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sobre a alergia ao futebolista português (o desperdício como desporto nacional)


Declaração prévia de interesses: eu não sou do Benfica. Sou, muito pelo contrário, do Sporting Clube de Portugal, e essa condição – como eu a vejo – compreende a satisfação por eventuais derrotas dos meus rivais (Benfica e Porto, sobretudo).
Dito isto, gostaria de partilhar convosco uma angústia portuguesa: a falta de oportunidades que os chamados “grandes” do futebol pátrio dão aos jovens. E não me refiro apenas aos jovens portugueses, mas também aos que, oriundos de outros países, o futebol português regularmente fabrica.
Neste território do desperdício nacional, o Benfica é um escandaloso exagero (até à caricatura). Anos a fio, os melhores jogadores das suas camadas jovens são vítimas do mais cruel e incompreensível ostracismo, ainda que o recrutamento desses atletas, desde os infantis até aos juniores, represente sempre uma exigentíssima selecção da melhor matéria-prima de Portugal e, até, do estrangeiro.
O campeonato português (mas não apenas este) está cheio de excelentes jogadores que, tendo feito a sua formação no Benfica, vêem depois as portas da equipa principal do clube fecharem-se-lhes cinicamente. Lembremo-nos de Moreira, Sílvio, João Pereira, João Vilela…
Jogadores que venham de outros emblemas logo ganham, no Benfica, um estatuto superior ao dos que desde novos cresceram no clube. Tenho, por exemplo, a certeza de que se Simão Sabrosa tivesse feito a sua formação no SLB nunca chegaria, tão novo, a titular (e capitão!) das águias. O mesmo acontece agora, obviamente, com Djaló.
Televi hoje o Benfica-Marítimo, e confirmei a imensa categoria de um jogador como Nelson Oliveira (um craque que em muitos aspectos me lembra o Pedro Barbosa do tempo em que não era ainda comentador da TVI). A Nelson apenas oferecem migalhas de jogos e assim se vai adiando a sua afirmação sine die. Igualmente me espantei com a extraordinária capacidade físico-atlética e técnica do maritimista Sami, jogador que foi júnior no Benfica e de que este clube estupidamente prescindiu (não recorrendo sequer à possibilidade de o vincular e, depois, o emprestar a outro clube).
Desculpai-me os amigos benfiquistas, se puderem, mas não resisto a uma provocação final. À porta do balneário do SLB, deveria estar um aviso: “Proibida a entrada a jogadores feitos no clube, em geral – e a portugueses, em particular.”

Ribeira de Pena, 05 de Fevereiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.record.pt.]

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