sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Heróis
Uma querida amiga, dando-me conta da morte de seu pai, disse-me que o seu “herói” tinha partido.
Percebo muito bem a escolha dessa palavra, tão cara ao território semântico da narrativa. Porque disso mesmo se trata quando falamos dos entes queridos que nos deixam à revelia da nossa vontade – de protagonistas nucleares da nossa história, de personagens principais do nosso enredo vital, de (lá está) “heróis”.
Isto, que é muito mais que literatura, ajuda-me afinal a explicar o valor que a literatura tem (sempre teve) para mim. É que escrever sobre a morte do pai da minha amiga significa também escrever sobre o falecimento do meu próprio pai, e vice-versa.
Disse à minha amiga que, sendo certa a inexistência de consolação à altura de tamanha perda, havia uma forma simples, mas poderosa, de manter vivo quem amamos: é, na nossa cabeça, continuarem vivas essas pessoas que amamos, ou seja, aquelas pessoas cuja vida se misturou com a nossa vida. Ou seja, aquelas pessoas cujos caminhos foram igualmente caminhos nossos. Ou seja, os que foram para nós luz, exemplo, aconchego. Ou seja, como magnificamente disse a minha amiga, os nossos heróis. O meu pai, o seu pai, qualquer pai digno desse nome.
Ribeira de Pena, 10 de Fevereiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
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