Bússola do Muito Mar

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

GPS, GPSD, etc.


Pela primeira vez na vida, fiz uma viagem ao volante do meu carro com o auxílio de GPS (emprestado). Senti na pele, digo-vos, o que é ser-se Passos Coelho nas mãos da famosa troika. Claro que a troika aqui será o tal aparelho que debita ordens sob a forma de instruções (ou, vá lá, vice-versa) e eu serei o triste que obedece automaticamente ao autómato.
A voz da troika (como portanto decidi chamar ao aparelho) tem um tom marcadamente neutro que, por um lado contribui para uma certa áurea de infalibilidade à roda das suas frases-determinações e, por outro, lhe rouba humanidade. Obedecemos-lhe, sim, mas sem entusiasmo ou afecto.
Aconteceu-me uma ou outra vez que o único caminho visível e seguro era exactamente o contrário do que a voz tutelar me indicava. Nessas ocasiões, para salvar a vida, desobedeci-lhe. Lembro-me, por exemplo, daquele abismo à saída de Vila Real. O aparelho debitava: “Vire à direita. Vire à direita. Vire à direita.” E eu, farto de ser Passos, não virei para esse lado.

Ribeira de Pena, 08 de Fevereiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho

1 comentário:

Paulo Pinto disse...

Aparelhozinho detestável, o mais embrutecedor gadget do nosso tempo! Odeio GPS sem nunca o ter usado (nem visto usar) com o mesmo preconceito do racista que diz que os pretos são estúpidos.
Já não é preciso consultar um mapa, já não é precisar pensar, planear o trajecto, usar a cabeça. «Quem tem boca vai a Roma» já não se aplica; agora é «quem tem GPS vai a... qualquer sítio». Acabaram-se as indicações dos locais aos forasteiros perdidos.
Percebo que no mar, no deserto, etc., ou até mesmo como forma de localização rápida e exacta de pontos na superfície terrestre, o GPS seja um auxiliar precioso. Até admitiria que um camionista, a precisar de carregar o veículo numa zona industrial em Würzburg, Alemanha, para a depositar num cliente em Wolverhampton, Reino Unido, usasse o maldito aparelho. Mas o GPS como tutor das deambulações de qualquer um de nós, é pior do que a calculadora para fazer continhas de somar.
Deveria haver um imposto especial de 200% sobre os GPS, para ajudar o Orçamento de Estado.
Irmão, liberta-te dessa tirania.