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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Rua da idade certa (com ou sem rima)


Moro numa vila chamada Ribeira de Pena
Que aos meus olhos é a minha rua
De há quarenta anos –
Homens mulheres isto é
Velhos velhas rapazes raparigas petizes
Viúvas alegres ou infelizes
Alguns cães gatos algumas casas
Um ou outro carro estacionado
Árvores agitando-se um Café parado

Desaparecem de vez em quando da imagem
Gente casas locais de trabalho
E chegam novos rostos à paisagem
(Por exemplo, o professor Joaquim Jorge Carvalho)
Crescem e somem-se árvores ao fundo
Vão vêm estações enganos desenganos
Mas o meu olhar tem sempre sete anos
A sede de alguma interrupção do mundo
Com que eu percorria em 1970
A minha luminosa rua lenta

De modo que os montes ao fundo (a que aqui chamam
Santa Marinha ou Senhora da Guia)
São o Monte Formoso visto outrora da minha rua
E aquela varanda natural que denominam miradouro
(Entre o Entroncamento e o Salvador)
É afinal o cume do Casal Ferrão (antes de haver Lidl
No lugar que era a antiga escola)
Na minha rua do século vinte

O meu olhar e o meu coração não mentem
(Dizem o que sabem o que sentem) –
Aqui onde estou é a minha rua
Sempre a mesma minha rua
E até a minha mãe aparece do lado de lá da estrada
(Ei-la muito nova junto ao centro de saúde a mulher
Com o filho aliás comigo pela mão conheço bem a voz
De minha mãe dizendo-me cuidado

É preciso sim viver muitos anos ó mãe
Para saber da idade verdadeira
Que para sempre se mantém
A primeira –
Sete anos (ou coisa assim)
E daí em diante para ti para mim
A eterna mesma rua
Minha ó mãe e tua
E dentro da rua mãe a tua voz
Ao redor de nós

Ribeira de Pena, 04 de Fevereiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho

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