domingo, 26 de fevereiro de 2012
Mãos de Pai
Em 1970, na barrinha de Mira, aprendi a nadar de costas. Na gloriosa estreia desta competência nova, dei por mim afastando-me de terra e, com alguma preocupação, fui vendo os rostos da Mãe, do Pai, dos irmãos Tó e Fátima cada vez mais longínquos. Quis dar meia volta e não consegui. Assustei-me, tentei pedir ajuda. Nada. A aflição paralisou-me braços e pernas, a água escondeu-me de toda a gente, senti ali a vida a deixar-me docemente.
“A morte”, podia eu ter pensado.
Mas não. Uma mão forte levantou-me, arrancando-me dali. O meu Pai, que não sabia nadar, senhores, salvou-me a vida com a precisão e o brilho de um herói de cinema.
Tenho-me lembrado muitas vezes do meu Pai. Porque o amo apesar de morto (assim o salvando de estar morto). E porque todos os dias há traiçoeiras águas em que, por culpa nossa ou alheia, caímos, ficando a faltar-nos uma mão que nos ajude, nos salve. A mão de um Pai.
Ribeira de Pena, 26 de Fevereiro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (Barrinha, Praia de Mira) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.dganodontacygnea.blogspot.com.]
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