Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vita Brevis


Há das casas a sombra ao entardecer
E sinos repicando o nosso fim.
Ai, breves são a luz e o viver
E é tão grande o Mar depois de mim!

Ribeira de Pena, 12 de dezembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A foto (assinada por Luísa Costa) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.olhares.aeiou.com.
Este é o último poema do meu livro A Palavra Vale, trabalho com que venci o Prémio Literário Francisco Álvares de Nóbrega (Machico - Madeira). A Junta de Freguesia de Machico editou um volume intitulado V Concurso Literário de Poesia Francisco Álvares de Nóbrega (Outubro, 2011) que, além do meu trabalho, inclui os trabalhos classificados no 2.º e 3.º lugares.]

PS: Thierry Proença dos Santos, Professor e investigador da Universidade da Madeira, fez parte do Júri deste Prémio Literário, na companhia de José Eduardo Franco, escritor e Professor no Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa da Universidade de Lisboa; de Jorge Moreira, presidente da Assembleia Municipal de Machico; de Lucinda Moreira, docente de Português da Escola Básica e Secundária de Machico; de Nelson Veríssimo, escritor e Professor da Universidade da Madeira; de José Tolentino Mendonça, poeta e Professor da Universidade Católica de Lisboa; e de Leonor Martins Coelho, Professora e investigadora da Universidade da Madeira. Ora, Thierry Proença dos Santos redigiu para o volume publicado pela Junta de Freguesia de Machico um belo texto intitulado “Breves notas de leitura em jeito de Prefácio”. Respigo dois trechos que particularmente me souberam a um delicioso bónus, por ser tão gratificante, aos olhos de quem escreve, perceber nos outros olhares assim atentos e competentes sobre a escrita feita.
Referindo-se ao meu trabalho, A Palavra Vale, ao de Amadeu Baptista, Sequência de Machico, e ao de Luís de Aguiar, Machico. Quebranta Terra Onde Choram os Pássaros, diz (pp. 10-11):
“Cada uma das obras traduz, à sua maneira, modos de conhecimentos sobre Machico que a escrita transforma em fábula do lugar, ou melhor, em lugar fabuloso. Os sujeitos poéticos cruzaram os sítios e os tempos deste povoado, as crenças e os gestos do seu quotidiano, os dados históricos e a sua tradição ancestral. Fizeram emergir ecos de outras culturas (clássica, oriental, literária), perspectivando deste modo a cultura local e conectando-a ao resto do mundo. Captaram realidades físicas do espaço evocado, reconfigurando-as por meio da subjectividade e estabelecendo, por conseguinte, um vínculo transtemporal e transgeográfico. Nestas transacções de índole espiritual, a temática da escrita do tempo, da vida e do cosmos emerge entrelaçada nas suas dimensões eufórica e disfórica, unificadas tanto pelo reiterar de tópicos (a lenda de Machim e de Ana d’Arfet, vultos históricos, o diálogo com o destino, Machico e a sua toponímia, o sentimento insular da distância, provas de vida que as circunstâncias locais originaram…) como pelo questionamento da essência humana na sua relação com o espaço que o circunscreve.”

Referindo-se especificamente ao meu trabalho, escreve (pp. 11-12):
“A composição A Palavra Vale, de Joaquim Jorge Carvalho […], cativa pelo modo como liga ironicamente a convenção literária com o íntimo processo criativo. Os vinte poemas aqui conjugados alternam formas e modelos, de tradição erudita ou popular, e surgem-nos ligados à declamação ou à recitação, com uma qualidade rítmica e musical apreciável, sem deixar de exibir intencionalmente as costuras da técnica expressiva do fazer poético. Num tom por vezes paródico, a exuberância da voz do texto revela-se na abordagem lúdica do tema, ao desconstruir formas fixas e figuras de estilo (ousando até trocadilhos), convidando o enunciatário a confrontar-se com este rodopio de versos multiformes e multisignificantes. Por vezes, o sujeito poético procura dar o ponto de vista do lugar, o da baía de Machico, ou recriar possíveis falas da terra e das suas gentes (preste-se atenção ao jogo das interpelações: o sujeito dirige-se ora a um vós extemporâneo, ora a Tristão Vaz, ora à pessoa amada, ao público em geral…). Assim, A Palavra Vale apresenta-se não somente como reflexão sobre a linguagem e projecção de um espaço arquetípico, mas também como sonho e jogo de vida interior, combinado com um fino sentido de auto-derisão.”


O meu obrigado a Machico, pois claro!
JJC

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