Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sábado, 31 de dezembro de 2011

Depressão (talvez) pedagógica


Electricidade de Portugal, isto é…
- Ó Asdrúbal, parece que o governo vendeu a EDP…
- E então? Fez o que os portugueses fazem há muito tempo…
- O quê?
- Como está sem dinheiro, foi aos chineses.

Fábula miserável
O burro, bispo da situação, dizia:
- É inevitável, irmãos.
E os outros burros baixavam o focinho e aceitavam a nova dose de sacrifícios.
Mas, a cada nova notícia de miséria redobrada, os burros estremeciam e, de vez em quando, faziam menção de protestar.
O burro-mor apercebeu-se, certo dia, da real iminência de uma insurreição e, mal controlando a ira, falou-lhes da ausência de alternativas e de exemplares castigos para os revoltosos (a começar pela excomunhão), prometendo-lhes, pela enésima vez, um futuro feliz, fundado na obediência cega e na zurração. E nessa hora mesma o líder asinino quis saber se estavam todos consigo.
Temerosos, os burros lá lhe disseram que sim.
Menos alterado, o bispo da situação concluiu o encontro com os cascos dianteiros erguidos para os céus:
- Então… zurremos, irmãos.

A questão da esperança
Pode roubar-se a um povo, oficialmente “em nome do povo”, o direito ao emprego, o direito à saúde, o direito à educação, o direito à justiça. Pode roubar-se a um povo, oficialmente “em nome do povo”, o salário, a segurança, os transportes, até a televisão.
Mas, no final de 2011, chegou-se ao extremo de se roubar a um povo, oficialmente “em nome do povo”, a esperança. Ora, sem esperança, o que se segue é, em primeiro lugar, uma espécie de torpor que se confunde com desistência. Depois, virá o caos e o apocalipse.
Não é preciso ser astrólogo para perceber a pertinência desta amarga profecia. A mim basta-me, por exemplo, ouvir a conversa de três quarentões (um deles, desempregado), encostados a um muro degradado que, em tempos mais luminosos, separava a estrada da magnífica fábrica da “Triunfo”, em Coimbra.
Não se pode roubar, a um povo, a esperança e esperar que tudo fique na mesma.

Coimbra, 31 de Dezembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (da antiga fábrica Triunfo) foi colhida, com a devida vénia, em http://expub.wordpress.com.]

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