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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A morte da televisão



Em Ribeira de Pena, passo muito tempo no meu quarto (agora também na sala, porque já temos novamente lenha).
O meu quarto é uma espécie de território autónomo da vidinha, quase livre de actas (ou "atas", como agora vomitavelmente se escreve), de relatórios, de troikas e de tricas, de quantificadores, de má gramática, de incultura, de vaidades, de vacuidades, de maus modos, de estupidez, até do meu envelhecimento (que se suspende, por magia, entre a porta e a mesinha-de-cabeceira junto à janela).
Costumava ter a televisão ligada, quase sempre. Por um lado, a qualquer momento me podia alienar, via dvd, para séries imorredoiras como Seinfeld, Friends, Tem Calma, Larry, Mad Men, Fawlty Towers, Alô, Alô, Turma do IT, etc. Por outro lado, porque ali a pantalha funcionava como um relógio vivo, bocadinho suportável de ruído que a horas certas me trazia, por exemplo, o telejornal.
A minha televisão avariou ontem, por volta das seis e meia da tarde. Julgo que morreu de velhice. Tenho estado, desde então, com os meus habituais livros (o chileno Coloane recordando naufrágios, o Ricardo Namora puzzlando uma narrativa pela língua adentro), o meu caderninho de escritas, a net, um jornal de há três dias, café e torradas (gentileza da MP), o vago som do rádio vindo da cozinha, algum carro interrompendo a calma exterior.
Não sei, em boa verdade, se a televisão do meu quarto me faz falta (temo que sim, apesar de tudo). Mas estou a aguentar-me bem nestas primeiras horas de luto.

PS (by the way): Que grande lição daria o povo se, ao contrário do que muitos pançudos desejam, ninguém comprasse os aparelhos necessários à captação da TDT. A esse fiasco seguir-se-ia, obviamente, a oferta “pelos mercados” da dita tecnologia, pois sem os milhões de (bovinos) receptores lá se iria, hélas, o interesse da publicidade televisiva…
PPS (by the way, by the way): Quando o povo acordar, os vigaristas tremerão. (Dizia-se “isto” da China face ao mundo e – reparai – era verdade…)

Ribeira de Pena, 08 de Dezembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[As imagens foram colhidas, com a devida vénia, em (respectivamente) http://www.opinadordeveludo.blospot.com e http://resistenteessencial.blogspot.com.]

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