Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sábado, 17 de dezembro de 2011

Dezembro com Novidade


Tarde de Dezembro, fim do primeiro período de aulas, sala de convívio da minha escola, aí pelas cinco da tarde. Os alunos do Clube de Música (sob direcção do meu competentíssimo colega Vítor Santos) chegam ao palco e, vencidos os primeiros nervos, cantam. No público (em mim), sucede à descontracção uma espécie de aviso de Novidade iminente, algo entre o religioso e um aviso de terramoto da Protecção Civil: canções dos Queen, de Adele, dos Guns & Roses, do Projecto Amália, etc. assaltam-nos ouvidos, inteligência, coração.
Apeteceu-me chorar, em determinado instante. Porque, irmãos, a Beleza pode doer mortalmente - como tão bem se lê na menina Cristina (inventada por Vergílio Ferreira) da Aparição tocando piano ou iluminando apenas com a sua presença as existências à roda.
Murmurei para o lado – para o Dinis, a Cláudia ou o Vitor: “Isto é tão importante, pá. Será que eles sabem disto lá em Lisboa?”
Com “Eles” queria (quero) dizer os governantes, a religião matemático-liberal de muitos governos e ministérios da educação…
Houve, nesta querida tarde de 16 de Dezembro, desde as duas às cinco e meia, um lume bom à volta e por dentro de nós. Eu também já tive professores que, nos anos setenta do século XX, me puseram a cantar, a representar, a declamar, a apresentar festas. A minha escola era a Rainha Santa Isabel, à Pedrulha, e dela me acontece frequentemente ter saudades muitas. Estou agora deste lado (o Presente), no aconchego cúmplice de outros colegas tão professores como se deve ser, versão possível do meu setor Silveira, ou Gouveia, ou da setora Dora. Os olhos contemporâneos dos alunos do Arco são os meus olhos daquele longínquo século XX: estado puro puro puro de alegria e de felicidade.
De modo que, digamos, ser professor é coisa formosa e doce, apesar de tudo quanto de feio e amargo outros nos digam, façam.
Com “outros” quero dizer “eles”.

Ribeira de Pena, 17 de Dezembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (inspiração provável de Vergílio Ferreira para a personagem Cristina, de Aparição), foi colhida - com a devida vénia - em http://vferreira.no.sapo.pt.]

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