Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Certa noite de 1981


Fui a Lisboa, nesse ano de 1981, com o meu pai, a minha mãe e os meus irmãos assistir à final do campeonato da 3.ª divisão, no Estádio da Tapadinha (Alcântara, Lisboa). Os cartazes diziam “Vai tudo!” e tudo ia, todos iam, para que os cartazes daquele tempo não fossem mentira.
Estes jogadores que a imagem acima fixa eram, então, meus ídolos (algures entre o Texas Jack ou o Major Alvega e o Homem Aranha). Vim, depois, a treinar e jogar com alguns deles, e pude acrescentar de magníficas imperfeições da humanidade o que se (me) perderia neles, entretanto, de éter ingénuo.
Naquele dia de verão, fizemos a viagem ao som dos Táxi, o meu pai levou-nos ao jardim zoológico, comprou bandeiras e chapéus de cartão (para o sol), fez inteligentes piadas sobre o Benfica e gajas, disse à minha mãe (pela enésima vez) que ela era a melhor coisinha da península ibérica e a minha mãe fez de conta (pela enésima vez) que não acreditava. À nossa volta, havia uma espécie de imortal alegria, decerto consubstancialíssima às raparigas passando-sorrindo, aos voláteis casais percorrendo a paisagem, às crianças (como o petiz Nelinho, irmão mais novo da tribo) pulando de impaciência, às canções do rádio a pilhas de uma família vizinha (talvez com o Tom Jones gritando "Delilah"). Éramos todos tão frescos, tão para sempre!
O nosso União de Coimbra ganhou e, no regresso, ainda fomos à Avenida Emídio Navarro para vitoriar o clube mais importante do mundo (com o Sporting, atenção). À noite, antes de dormir, eu devo ter lido algum Twain, Júlio Dinis, Dickens, Eça, Camilo, Earl Stanley Gardner ou Alexandre Dumas (pai ou filho) - e pensado que o mundo era um lugar simpático para se viver.
Sabei que é muito difícil ter, trinta anos depois, uma certa noite assim.

Ribeira de Pena, 08 de Dezembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.uniaodecoimbra.blogs.sapo.pt. Na imagem, aparecem, da esquerda para a direita, em cima: Juan Callichio (treinador), Teixeira (massagista), Pratas, Arménio, Paredes, Pereira, Salvador, Seabra, Serrão, Machado, Castanho; em baixo: Hermógenes, Moinhos, Mansilha, Cavaleiro, Toninho, Jorge Oliveira, Damião, Alexandre, José Carlos, Sanô.]

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