Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

terça-feira, 29 de março de 2011

L'enfer c'est les autres (Sartre)


Lula

Ouvi ontem na rádio: Lula da Silva, um operário que chegou a presidente da República, disse que o FMI, ao invés de resolver problemas das pessoas, os agrava. Disse-o sem papas na língua (portuguesa) e os hipócritas anfitriões fingiram que aquilo não era importante. Mas, já agora, eu gostaria de lembrar, à boleia desta lucidez tropical, que muitas vezes é preciso distância – crítica e geográfica – para falar de assuntos momentosos. E que uma big picture também depende de uma big vision.

Modelo de avaliação de professores (I)

A (ainda) ministra de Educação está triste com o fim do modelo de avaliação, votado por toda a oposição na Assembleia da República. Diz que é pena, porque tudo estava a correr bem nas escolas. Tudo a correr bem? Vou academicamente partir do princípio de que a senhora acredita mesmo nesta enormidade. Generoso, esclareço-a: não estava, não está. Mesmo os que anda(va)m a tentar cumprir as regras deste modelo injusto (com prejuízo até da sua sanidade mental) respiram, por um momento, de alívio. Aleluia! Parece que, durante um inteiro período, os professores poderão dedicar-se ao mais importante da sua função – o ensino, o trabalho com os alunos. O que até aqui se passou foi, tenha a senhora paciência, tempo perdido. Ou, perdoai a piadinha fácil, uma triste aventura.

Modelo de avaliação de professores (II)

Miguel Sousa Tavares (uma espécie de Margarida Rebelo Pinto em versão marialva, literariamente, ou um Marcelo Rebelo de Sousa wannabe, no plano do comentário) voltou a falar, na SIC, dos professores. Sou franco: custa-me mais a má literatura do plumitivo do que as suas bacocas frases sobre a actualidade da educação. Mas não deixo de registar a facilidade com que, do cadeirão majestático em que se auto-imagina, opina sobre assuntos que manifestamente não domina. Como não se interroga este homem de má gramática e de má catadura sobre o singelo facto de TODA A OPOSIÇÃO (da esquerda à direita) achar que o modelo de avaliação em vigor é injusto, inexequível e estúpido?

Modelo de avaliação de professores (III)

António Barreto, que tem a vantagem – sobre Miguel Sousa Tavares – de ser um homem ponderado e de boa escrita, também falou, na TVI24, sobre a avaliação dos professores. Mas a sua posição é verdadeiramente extraordinária: confirmou, por um lado, que o actual modelo lhe parece errado e inadequado, mas acha “incompreensível”, por outro lado, que o PSD tenha votado a sua suspensão imediata. Percebemos, pois, que a sociologia, mesmo a mais chique, tem razões que a Razão desconhece…

Modelo de avaliação de professores (IV)

Francisco José Viegas, uma irrelevância literária da contemporaneidade, ouviu António Barreto nesse programa e, sem acrescentar uma só ideia que se aproveitasse, considerou também “incompreensível” o que o PSD fez. Serodiamente alcandorado a comentador político, este pobre escritor anda mortinho por dizer uma coisa original e forte, mas a coisa tarda…

Crisófagos

A crise existe e, para o caso de nos esquecermos da sua sombra tutelar e adamastórica, há todos os dias na televisão engenheiros, sociólogos, economistas, professores de finanças, esquerdistas e ex-esquerdistas, reaccionários e ex-reaccionários, deputados e ex-deputados, governantes e ex-governantes, corretores, editores de diários e semanários. Eles discursam, peroram, afirmam, reiteram, argumentam, explicam, aconselham, garantem, falam falam falam. São todos senhores da sua própria verdade e todos também, de forma geral, definitivos. Mas concordam num pormenor essencial: a culpa é “dos outros”. Sempre dos outros. Porque eles, os comentadores, bem nos avisaram, coitadinhos. A culpa é nossa, pá. Isto é, dos outros.

Ribeira de Pena, 29 de Março de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem de Lula da Silva foi colhida, com a devida vénia, em http://www.3bp.blogspot.com.]

Sem comentários: