domingo, 2 de maio de 2010
Preguiça Social
No dia 1 de Maio, não estive na Grécia a gritar contra o governo e o FMI. Tão-pouco estive em Lisboa ou Coimbra a marchar pelo emprego e pela justiça social. Nem sequer passei por uma associação qualquer para ouvir falar da história do sindicalismo ou escutar canções de protesto.
Preguicei o sábado inteiro, em cafés, centros comerciais, ruas transmontanas.
Se tivesse vergonha, talvez não o confessasse. Não tenho vergonha.
Depois dos quarenta anos, a preguiça é um direito humano tão fundamental como os outros.
Eu, ontem, morei numa canção dos Deolinda: estou preocupado e solidário, mas ainda não bem pronto para a acção. De modo que vão andando, que eu já lá vou ter…
Ribeira de Pena, já 02 de Maio de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
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7 comentários:
Vou continuar a trabalhar muito nos próximos dois anos...depois dos quarenta também vou lá ter! Mas... como se mede o tempo de quem trababalha!? como saber?`... Tudo tão pouco, tudo tanto!
Isso de medir o tempo é questão antiga e universal (o tempo kairónico, claro). Não te sei responder, confesso.
Mas comungo dessa ideia fundamental: "tudo tão pouco, tudo tanto" (e vice-versa).
Bj, Amiga.
JJC
Muitas vezes tenho esta estranha sensação... Não sei se a tens também. A de não saber quem são os «bons» e os «maus» nesta história toda. O FMI, os governantes que impõem sacrifícios, são os maus? E quem são os bons, são os que exigem para nós (mas não do bolso deles)subsídios, regalias, aumentos? O pai é mau porque é poupadinho e unhas-de-fome e não me dá o brinquedo caro? A mãe é boa porque mo prometeu comprar logo que ponha as jóias da família no prego?
E no entanto sabemos que os mesmos que racionalmente nos demonstram que a austeridade é inevitável, que até de certa forma nos pusemos a jeito para tê-la, vivem na abundância e pactuam com desvarios milionários...
Será pois o direito à preguiça da meia-idade ou será a amarga sabedoria dos anos?
Paulo, começo pelo fim: sabedoria, não sei bem se será; amargura, sim.
Depois: eu também tenho muitas vezes dúvidas sobre onde estão os "bons", mas atrevo-me a dizer, com algum grau de convicção, que os "maus" NÃO SÃO os que trabalharam sempre, fazendo os seus descontos, cumprindo a lei, vivendo do seu labor, sem folgas financeiras, sem prémios obscenos nem mordomias escandalosas, sem tráficos de influências, COM dignidade.
Abraço!
JJC
eu sou canhoto nestas matérias!
os maus são os que nos apertam o cinto, ou garroteiam de tal forma nosso corpo que nem pinga de sangue passa e que nunca viveram tão faustosamente!
Paulo Araújo
Esses não são os «maus», de todo. Referia-me aos sindicalistas, a certos partidos de esquerda, etc. O que não quer que me posicione do «outro» lado.
Paulo Araújo, obrigado por "aqui" vires. Estou, nisto, contigo.
Paulo Pinto, companheiro mais frequente do Mar, percebo o que dizes, mas parece-me que cada vez mais é necessária uma divisão de águas (ainda que de feição algo radical). Julgo que o Centrão, tão compreensivo com os ganhos dos fortes e tão realista com a arraia ´miúda, começa a cansar. Por isso, a direita (a sério) e a esquerda (a sério) vão ganhando espaço, talvez.
Abraço(s)!
JJC
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