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Número de Ondas

domingo, 16 de maio de 2010

A Verdade


O político Miguel Frasquilho, do PSD, foi confrontado por João Galamba, do PS, no programa “Parlamento” (da RTP2), com uma incómoda contradição.
Frasquilho é deputado na Assembleia da República e, simultaneamente, trabalha para o Banco Espírito Santo. Ao que parece, esta promiscuidade é legal e compreende elementos de outras bancadas. Mas sucede neste caso que, sobre a crise económica e financeira, o parlamentar social-democrata subscreveu um documento do BES (tornado, entretanto, público) garantindo que Portugal vai bem, que foi o país da zona Euro que mais rapidamente saiu da recessão e que mais cresceu no 1.º trimestre de 2010, e enfim que a especulação financeira é motivada por nefandas razões estranhas à objectiva realidade e ao rigor; por outro lado, na Assembleia, diz que Portugal está numa situação terrível, que o governo tem feito tudo mal e que, por culpa dos socialistas, não se vislumbra esperança no horizonte.
Deixo as reflexões mais político-partidárias para quem tenha atribuições, vocação e paciência para tal. Cá por mim, fico-me por um ângulo filosófico. Ora, salta-me à vista que, nesta história portuguesa com certeza, ou como deputado (no Parlamento) ou como economista (no BES), em algum momento a Verdade foi sacrificada pelo Dr. Miguel Frasquilho, decerto em nome de outros “valores mais altos que se (a)levantaram”.
Eu tinha (e tenho) boa opinião deste senhor. Mas a questão a colocar, à roda desta fábula, não pode deixar de ser a seguinte: onde se sente o cidadão Frasquilho mais livre – na Assembleia ou no Banco Espírito Santo?

Vila Real, 15 de Maio de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem-supra é a da capa do romance de José Saramago, O Homem Duplicado. Curiosamente, na sua contracapa, lemos a mui saramaguiana frase: “O caos é uma ordem por explicar.”]

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