quarta-feira, 19 de maio de 2010
Bondade Silvestre
Gostava, Deus, que a minha história fosse um romance de Júlio Dinis, e que o mundo fosse feito de árvores de frutos, entardeceres tranquilos, madrugadas esperançosas e soalheiras, alguns amores, bondade silvestre.
Ali, um regato fresco.
Aqui, uma casa antiga de janelas limpas, rescendendo a alecrim ou a honesto refogado.
Em baixo, vista da varanda que a minha mãe nunca teve, uma velha tia alimentando as galinhas e os patos.
Este meu amor antiquíssimo pela narrativa dinisiana representa bem uma filosofia e uma certa vida correndo, algures entre Rousseau e Alberto Caeiro (ou Horácio), ambas nascidas muito na infância da Rua Dr. Manuel Almeida e Sousa, da Relvinha, da Pedrulha ou da Soalheira, nesse tempo estrangeiro em que não tinha ainda sido inaugurada a mortalidade.
Leio a Morgadinha como se o meu pai me levasse, pela mão, ao futebol, ou se a minha mãe fosse à tia Lurdes provar um vestido para o casamento do primo Armandito. A minha rua, então, volta a ser mais campo que cidade, e eu também.
Ribeira de Pena, 19 de Maio de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A foto-supra, tirada no jardim da casa n.º 90 da minha rua e datada, salvo erro, de 1970, inclui o irmão Zé-Tó, a irmã Fátima et moi-même.]
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