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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Detective de Bicicleta


Adquiri por menos de 3 Euros, em saldos, um filme de 2004, intitulado Crimes Ocultos (Murdoch Mysteries, no original), com realização de Michael DeCarlo e John L’Ecuyer. Trata-se de uma história de crimes e detectives (inspirada, aliás, num romance policial homónimo de Maureen Jenninggs).
O filme é feito, como outros do género, de mistério e acção em doses adequadas. O detective, protagonista da história, recorre a instrumentos e métodos científicos, analisa minuciosamente pistas, interroga suspeitos, revisita registos policiais (casos antigos, cadastros) e sofre pressões do poder social e político.
A quem me estiver a ler parecerá, sem dúvida, que pouco ou nada difere de séries televisivas como CSI ou quejandas. Mas há, nesta história, uma nuance: passa-se no século XIX. O detective viaja de bicicleta, quase não usa armas, não tem computadores nem telefones (ou telemóveis) à disposição. A tecnologia de vanguarda é, ali, um rudimentar microscópio que permite identificar certa fibra presa nas unhas de um cadáver. A pressão da hierarquia tem a ver com a conveniência de, se necessário, fechar os olhos a crimes de senhores importantes e de, se possível, encontrar um bode expiatório entre algum criado anónimo.
Talvez se pudesse dizer que, no fundo, a intriga imita o que, hoje, nos cinemas e na televisão, superabunda em histórias que se repetem que se repetem que se repetem. Mas reencontrei neste filme uma lentidão reconfortante: um tempo em que havia tempo para o detective pensar. Um tempo em que o homem era mesmo o centro da acção, independendo de aparatos científicos e tecnológicos, de análises ao dna ou de ciberpesquisas sofisticadas.
Anda à roda desta circunstância o facto de eu serodiamente preferir ainda Conan Doyle, Agatha Christie (ou mesmo Enid Blyton e Earl Stanley Gardner) a CSI & derivados. E, de forma concomitante, o facto de preferir o ritmo da leitura ao ritmo da tele-recepção.
E eis aqui, reiterado nesta reflexão sobre um filmezito comprado em saldos, um facto fundamental da minha existência: o de, desde que me conheço, eu ter saudades de um passado anterior ao meu próprio século.


Ribeira de Pena, 17 de Maio de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem-supra é um pormenor da capa do DVD. Os intérpretes principais do filme são Peter Outerbridge, Keeley Hawes, Flora Montgomery, Colm Meaney e William B. Davis.]

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