quinta-feira, 6 de maio de 2010
Memória filha da mãe
Pessoa amiga dizia-me, há dias, que eu tinha qualidades (“qualidades, pá!”), que era uma pena não escrever, não aparecer, não fazer parte de.
O discurso talvez quisesse ser encomiástico. Mas transportava, na forma e no conteúdo profundo, uma certa repreensão burguesinha: que era uma pena não escrever onde devia, não aparecer onde devia, não fazer parte do que devia.
Respondi-lhe, genericamente lembrando a felicidade de estar em paz comigo desta forma; de o meu aparente isolamento ser uma forma de comunhão com os outros; de eu, ao contrário do que ele dizia, continuar a escrever (talvez até mais do que devia).
Mas – confesso agora – os meus motivos não são apenas bondosos e inocentes. Também têm a ver com a minha memória. A minha ressentida memória.
É que muito mundo à volta de mim, há alguns meses, ignorou as minhas dores de professor revoltado. Há nem sequer dois anos, ouvi pequenos, médios e grandes ignorantes defender a ministra Maria de Lurdes Rodrigues e pôr em causa a pertinência e a justiça de manifestações pertinentes e justas. Há pouco tempo, ouvi e li gente resumir a revolta de tantos a, deixai que vo-lo recorde, coisa de "movimentos corporativos", de "sindicatos comunistas", de luta por "indecentes privilégios".
Eu não me esqueço das ofensas à minha dignidade, senhores.
E se não me esqueço de quem, na Assembleia da República (dentro e fora do PS), votou por nós, tão-pouco me esqueço de quem votou contra nós.
Agora, com Isabel Alçada (que tem a enorme vantagem de conhecer o terreno, de ter sido professora do ensino básico e secundário, de gostar de professores e de não ter Valter Lemos a seu lado), algo mudou, graças a Deus.
Já há até bastante gente a fazer de conta que sempre defendeu esta política (ainda que “esta política” seja, em muitos aspectos, o contrário, ou quase, da anterior).
Mas eu sou um filho da mãe com memória (“com memória, pá!”). Não me esqueço.
Ribeira de Pena, ainda 06 de Maio de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
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2 comentários:
Não és o único com memória, pá! E são precisas muitas pessoas com memória no nosso País, para que as coisas mudem!...
Abraço,
TB
Abraço, Telmo!
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