sábado, 23 de abril de 2011
Uivo em carris
Pela ponte do Açude um (ainda) quarentão corre contra a morte. Uma patine cinzenta embrulha a tarde, avulsos automóveis interrompem o feriado, o rio corre como se nunca tivesse feito outra vida.
Depois, até ao túnel antiquíssimo da Estação Velha, a corrida é uma solidão ainda maior. Não há senão o homem trotando em contramão e a chuva hesitante desta Primavera crítica. Entretanto, um cheiro pestilento anuncia a visão terrível, quase na cortada do Choupal, de um cadáver canino apodrecendo sobre a erva da berma.
Um uivo de comboio sobrepassa este encontro.
O homem corre sempre, sempre. Não já o cão lá atrás.
Coimbra, 23 de Abril de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.cnpgb.inag.pt.]
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