Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

domingo, 17 de abril de 2011

Há muito, muito tempo


1. Sábado, dia 16 de Abril, onze da manhã. Estaciono junto ao Campo da Arregaça, do Clube de Futebol União de Coimbra. Vou ver o jogo União - Pedrulhense. Adepto, desde criança, do União, estou hoje do lado dos da Pedrulha, porque é nesta equipa que milita o António, meu sobrinho e (bom) médio ofensivo. De qualquer modo, um espectador avulso diz que o clube da Arregaça está a morrer
2. Sob a luz inclemente do sol, semicerro olhar e atenção ao jogo: subitamente, o ano é 1977, sou o número nove do União de Coimbra e estou a jogar contra o Ançã Futebol Clube. Ganhamos nove a zero e o quarto golo é meu. Junto à baliza, o meu pai e o meu tio Toni lacrimejam, orgulhosos. O campo, ao contrário do que constato no presente, estava quase cheio.
3. No dia 15 de Abril, levantei em Coimbra o meu primeiro “cartão de cidadão”. No momento de receber o novo documento, o meu velho bilhete de identidade (que tinha uma foto de mim mais novinho) cruzou-se, sobre o balcão, com o novo (que tem uma foto de mim mais velho). Vi, com piedade, o modo arrogante como o primeiro olhava para o segundo.
4. O crescimento da cidade parece que, a todo o momento, engolirá este campinho da Arregaça onde passei tantas horas de felicidade (quase nunca consciente da irrepetibilidade do que estava vivendo). O meu sobrinho jogou bem, mas foi goleado. Enquanto eu cumprimentava o António, quatro adeptos do União de Coimbra, do outro lado da bancada, aplaudiram os vencedores. Um espectador avulso diz que o clube da Arregaça está a morrer.
5. Mas não é só o clube da Arregaça.

Coimbra, 17 de Abril de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto de 1979 ou 1980: eu capitão dos juniores do Clube de Futebol União de Coimbra.]

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