1. Sábado, dia 16 de Abril, onze da manhã. Estaciono junto ao Campo da Arregaça, do Clube de Futebol União de Coimbra. Vou ver o jogo União - Pedrulhense. Adepto, desde criança, do União, estou hoje do lado dos da Pedrulha, porque é nesta equipa que milita o António, meu sobrinho e (bom) médio ofensivo. De qualquer modo, um espectador avulso diz que o clube da Arregaça está a morrer
2. Sob a luz inclemente do sol, semicerro olhar e atenção ao jogo: subitamente, o ano é 1977, sou o número nove do União de Coimbra e estou a jogar contra o Ançã Futebol Clube. Ganhamos nove a zero e o quarto golo é meu. Junto à baliza, o meu pai e o meu tio Toni lacrimejam, orgulhosos. O campo, ao contrário do que constato no presente, estava quase cheio.
3. No dia 15 de Abril, levantei em Coimbra o meu primeiro “cartão de cidadão”. No momento de receber o novo documento, o meu velho bilhete de identidade (que tinha uma foto de mim mais novinho) cruzou-se, sobre o balcão, com o novo (que tem uma foto de mim mais velho). Vi, com piedade, o modo arrogante como o primeiro olhava para o segundo.
4. O crescimento da cidade parece que, a todo o momento, engolirá este campinho da Arregaça onde passei tantas horas de felicidade (quase nunca consciente da irrepetibilidade do que estava vivendo). O meu sobrinho jogou bem, mas foi goleado. Enquanto eu cumprimentava o António, quatro adeptos do União de Coimbra, do outro lado da bancada, aplaudiram os vencedores. Um espectador avulso diz que o clube da Arregaça está a morrer.
5. Mas não é só o clube da Arregaça.
Coimbra, 17 de Abril de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto de 1979 ou 1980: eu capitão dos juniores do Clube de Futebol União de Coimbra.]
Sem comentários:
Enviar um comentário