A prima Marília veio a Portugal vender uma casa e um terreno que o avô Fernandes lhe deixara há vinte anos, nas imediações da Figueira da Foz. Era uma senhora divertida, já idosa, emigrada no Brasil desde muito pequena. O senhor Valter dos correios insistiu muito com a familiar: que viesse a Coimbra para falarem, para elaver a Gracinda, para irem às queijadas de Tentúgal. A resposta foi que talvez, mas puxa, cê sabe, as viagens nessa idade custam p’ra caramba – e depois lá veio mesmo, saindo do comboio à Estação Velha.
Ficou um dia apenas com a família conimbricense. Antes de embarcar no alfa para Lisboa, quis ainda tomar um suminho num Café próximo da residência do primo.
A dona do estabelecimento tinha a bonomia de um inspector da Gestapo. Gritava com a empregada, discutia ao telefone com um fornecedor de cerveja, impacientava-se perante hesitações dos clientes juvenis na hora de escolher a marca de um gelado.
A emigrante no Brasil escandalizou-se com o berro que a matrona ao balcão dedicou à empregada e falou:
- Minha quirida, cê tem dji tê calma, meu bem. Todo o mundo precisa dji amor.
Respondeu-lhe a proprietária, tonitruante como um furacão bíblico:
- Ó minha senhora, temos aqui café, chá, sumos, bolos, sandes, tostas, sopas e salgados. Amor não temos!
Coimbra, 14 de Julho de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.idetoni.blogspot.pt.]
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