sábado, 7 de julho de 2012
Concha
Sábado invisível. Um dia inteiro de alienação voluntária, consciente, grata. Nem por um instante saí de casa, nem por um minuto pus os pés na varanda, nem por sombras me apeteceu trocar os calções e a t-shirt por roupa de ir à rua. Sábado, digamos, só de livros, de televisão e de uns seis episódios de "Will & Grace". (Intervalos para conversar com a MP, para dormitar, para dez minutos de computador.)
Desde pequeno que preciso, de vez em quando, de uma concha mínima, um refúgio invisível que me livre do mundo - e dispense o mundo de me aturar. Já fui este Robinson Crusoë, ao longo das décadas que sou, na despensa da casa materna, numa arrecadação exterior contígua a uma capoeira, num canto esconso do meu quarto, numa casa de praia em Mira, na casa da família madeirense, num quarto de estudante em Edimburgo, em pensões ou hotéis lisboetas (sem estrelas), em bibliotecas municipais, numa pastelaria pacata ou no meu carro (entre aulas ou reuniões).
Morre-se por um bocadinho para recarregar a alma de paciência e de ilusão. Morre-se para voltar.
Isto escrito, vou agora acabar de morrer por mais umas horas.
E devo voltar.
Ribeira de Pena, 07 de Julho de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.culturamix.com/.]
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