Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Diabo de greve

- Já viste, pá?
- Hã?
- A greve dos médicos…
- Que é que tem?
- É chato, pá. Prejudica as pessoas. Que culpa têm as pessoas, pá, dos problemas dos médicos, hã?
- Os problemas dos médicos também são problemas das pessoas. A começar pela circunstância de os médicos também serem pessoas…
- Pois sim. Não digo que não, mas…
- Mas o quê?
- Deviam fazer greve sem prejudicar os utentes, pá… Não achas?
- A greve é uma forma de luta. E só resulta se se notar. Isso de greves que não prejudiquem ninguém é uma imbecilidade, desculpa lá…
- Olha, pá, o Diabo é que nunca faz greve…
- Não? Achas?
- Pois, pá. Se o Diabo fizesse greve, como é que nós notávamos?
- Sei lá. Talvez estranhássemos estar o mundo sem problemas…
- Exacto. Corria tudo bem. Diríamos: Ó Diabo!  Algo de estranho se passa…
- Tens razão. Mas o cabrão do Diabo deve ter excelentes condições de vida…Não precisa de fazer greve!
- Hã?
- Pois, pá. Não tem problemas com a saúde, a educação, a habitação, o comer, a justiça…
- Pois sim. Mas da maneira que isto anda, haverá um dia em que o próprio Diabo fará greve…
- Deus queira, pá. Deus queira!

[A imagem (aspecto de Penedono, local onde este textinho nasceu) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.heritage2008.greenlines-institute.org.]

3 comentários:

Paulo Pinto disse...

Todos os sindicatos e até a Ordem dos médicos apoiaram a greve, e a adesão foi, ao que parece, esmagadora. Quando assim é, os motivos têm que ser válidos. E todos observamos como o SNS vai sendo desvitalizado e atrofiado a cada dia que passa.
Mas outro pormenor chamou a minha atenção: o fantástico castelo (e pelourinho) de Penedono com o qual ilustraste o teu texto. Foi a poucos quilómetros dali, em Sernancelhe, que comecei a minha carreira docente. Fui ao castelo várias vezes, pedindo a chave na taberna que havia ao lado do pelourinho. Em 1986, era o único sítio em Penedono onde se podia almoçar: fêveras com batata frita que vinham directas no prato, nem travessa ou toalha na mesa punham! Apesar da frugalidade, a vilazinha minúscula era um paraíso de beleza, e ainda hoje é. A quem ainda não conhece, recomendo vivamente a região. Que saudades!
Um abraço.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Caro Paulo,

não sabia dessa tua ligação afectiva a Penedono. No meu caso, tratou-se apenas da segunda visita a esta espécie de fantasia real do nosso mapa próximo. Mas também eu, claro, recomendo uma ida a Penedono a todos quantos (ainda) não conheçam o lugar.
Já agora: soubeste da realização, ali, há poucos dias, de uma Feira Medieval?

Abraço!

JJC

Paulo Pinto disse...

Lugar mais perfeito não pode haver. Não sabia, mas estarei atento se repetirem.
Um abraço
PP