- Já viste, pá?
- Hã?
- A greve dos médicos…
- Que é que tem?
- É chato, pá. Prejudica as pessoas. Que culpa têm as pessoas, pá, dos problemas dos médicos, hã?
- Os problemas dos médicos também são problemas das pessoas. A começar pela circunstância de os médicos também serem pessoas…
- Pois sim. Não digo que não, mas…
- Mas o quê?
- Deviam fazer greve sem prejudicar os utentes, pá… Não achas?
- A greve é uma forma de luta. E só resulta se se notar. Isso de greves que não prejudiquem ninguém é uma imbecilidade, desculpa lá…
- Olha, pá, o Diabo é que nunca faz greve…
- Não? Achas?
- Pois, pá. Se o Diabo fizesse greve, como é que nós notávamos?
- Sei lá. Talvez estranhássemos estar o mundo sem problemas…
- Exacto. Corria tudo bem. Diríamos: Ó Diabo! Algo de estranho se passa…
- Tens razão. Mas o cabrão do Diabo deve ter excelentes condições de vida…Não precisa de fazer greve!
- Hã?
- Pois, pá. Não tem problemas com a saúde, a educação, a habitação, o comer, a justiça…
- Pois sim. Mas da maneira que isto anda, haverá um dia em que o próprio Diabo fará greve…
- Deus queira, pá. Deus queira!
[A imagem (aspecto de Penedono, local onde este textinho nasceu) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.heritage2008.greenlines-institute.org.]
3 comentários:
Todos os sindicatos e até a Ordem dos médicos apoiaram a greve, e a adesão foi, ao que parece, esmagadora. Quando assim é, os motivos têm que ser válidos. E todos observamos como o SNS vai sendo desvitalizado e atrofiado a cada dia que passa.
Mas outro pormenor chamou a minha atenção: o fantástico castelo (e pelourinho) de Penedono com o qual ilustraste o teu texto. Foi a poucos quilómetros dali, em Sernancelhe, que comecei a minha carreira docente. Fui ao castelo várias vezes, pedindo a chave na taberna que havia ao lado do pelourinho. Em 1986, era o único sítio em Penedono onde se podia almoçar: fêveras com batata frita que vinham directas no prato, nem travessa ou toalha na mesa punham! Apesar da frugalidade, a vilazinha minúscula era um paraíso de beleza, e ainda hoje é. A quem ainda não conhece, recomendo vivamente a região. Que saudades!
Um abraço.
Caro Paulo,
não sabia dessa tua ligação afectiva a Penedono. No meu caso, tratou-se apenas da segunda visita a esta espécie de fantasia real do nosso mapa próximo. Mas também eu, claro, recomendo uma ida a Penedono a todos quantos (ainda) não conheçam o lugar.
Já agora: soubeste da realização, ali, há poucos dias, de uma Feira Medieval?
Abraço!
JJC
Lugar mais perfeito não pode haver. Não sabia, mas estarei atento se repetirem.
Um abraço
PP
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